Muito cedo desenvolvi paixão pelo cinema. Esclareço que quando menciono “cinema” refiro-me à forma e ao conteúdo. Para mim, gostar de cinem...

As melhores Mortes da minha vida

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Muito cedo desenvolvi paixão pelo cinema. Esclareço que quando menciono “cinema” refiro-me à forma e ao conteúdo. Para mim, gostar de cinema significa ir ao cinema, assistir a filmes em salas de cinema. Lá eu não perco nada da produção. Não tem menino, cachorro, geladeira, telefone, campainha nem vizinhos. O cinema é um ambiente feito para se ver filmes e jamais será substituído pela TV!

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Uma das boas recordações que guardo das minhas idas ao cinema é um certo momento em que retornava do antigo Cine São José, localizado em Jaguaribe. Era uma noite chuvosa. Vínhamos a pé pela Avenida Coremas. Lembro-me bem: fiquei deslumbrado com o colorido do filme "Pinóquio" (Pinocchio). Devia ter uns cinco anos.

Antes disso, quando tinha quatro anos, fomos morar no bairro de Tambiá, na praça do Hospital Santa Isabel, ao lado da Praça da Independência e pertinho da Epitácio Pessoa. No final do primeiro quarteirão da longa avenida havia o Cine Metrópole. Foi lá que vi os primeiros filmes em minha vida, inaugurando a looonga (espero!) carreira de cinéfilo.

Nas noites das quartas-feiras, o Metrópole exibia histórias de caubói. Pequenos ainda, Silvino, Humberto e eu éramos levados pelas mãos de Seu Carrinho, o alfaiate Carlos Brandão, nosso vizinho e esposo de uma grande amiga de minha mãe, dona Maria Luiza. Era um doce de pessoa, a quem nossos pais confiavam a nossa guarda.

Nas matinês dos sábados víamos séries memoráveis: "Os Perigos de Nyoka", "Os Tambores de Fu Manchu", "Jim das Selvas". Eram eletrizantes. Sempre encerravam com o mocinho ou a mocinha num grande risco que nos deixava em suspense por uma semana, ao longo da qual não falávamos de outra coisa. Cada episódio sempre terminava com as palavras: “No próximo episódio: conseguirá a linda Nyoka escapar do cerco dos canibais?”; “Conseguirá Jim das Selvas escapar do estômago do crocodilo?” E por aí seguia...

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Mais crescido, e tendo adquirido autonomia para ir sozinho ao cinema, passei a frequentar as matinês do Cine Rex, no centro da cidade. Foi aí que eu descobri "O CINEMA"!

O Rex era mais do que um sala de projeção. Era um portal para outra dimensão. Lá eu ingressava num mundo mágico. Tudo começava já na calçada, onde sempre encontrávamos Fernando Belong, com uma pilha de gibis no braço, para vender ou trocar.
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Além dele, havia Marconi Chianca, que, embora jovem, era tão alto que eu pensava que ele já tinha nascido daquele tamanho.

Tentando entrar no Rex estava sempre Macaxeira — também louco por filmes —, que encontrava resistência no porteiro, Seu Etelvino, e no segurança, Seu Pedro, grandalhão, porém manso.

No salão de entrada era comum encontrarmos um fiscal do Juizado de Menores, cuja vigilância nos deixava inibidos, fosse pela censura do filme, fosse pelo cigarro que estivéssemos fumando. De toda forma, hesitávamos em fazer as molecagens em sua presença. Ninguém gostava dele.

Lá dentro, a magia da sala de exibição. Parece até que ainda ouço as músicas do intervalo, especialmente da orquestra de Billy Vaughn. Era comum encontrarmos Ivo Bichara, o primeiro beatnik da Paraíba, instalado numa das primeiras poltronas, bloqueando a fileira.
Barba longa, sem bigode, cabelos longos, ele sacava o pente de casco de tartaruga e cantava bem alto um trecho de "La Barca" ou de alguma outra canção latina.

Numa das poltronas, é possível que Ivan Cineminha já estivesse sentado, iniciando a sua longa trilha de filmes (20.007, na última semana!), todos devidamente registrados e acompanhados de uma sinopse. Uma verdadeira enciclopédia do cinema, duas vezes entrevistado em Jô Soares. Incrível!

O esperado gongo anunciando o início da sessão era seguido do apagar das luzes e a abertura das cortinas. Era um momento em que todos se calavam, ansiosos pelas novidades cinematográficas desfilarem aos nossos olhos.

Às vezes observávamos uma ou outra moça sentada, guardando a poltrona ao seu lado. Apagadas as luzes, o “caso” sentava-se ao lado, interpretando o seu filme particular, geralmente classificado no gênero romântico.

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Além do Rex, havia o Cine Plaza, onde assistíamos às matinais de domingo, compostas por desenhos de "Tom & Jerry" ou "Pernalonga", seguidos de um filme infantil. Geralmente algum excelente documentário sobre a natureza.

No início da minha juventude foi inaugurado outro grande cinema em João Pessoa: o Cine Municipal. Um dos primeiros filmes que lá assisti foi "Heróis de Barro" (They Came to Cordura), com Gary Cooper e Rita Wayworth.

O trailer de "O Satânico Dr. No", que iniciou a sequência de filmes de James Bond (007), foi exibido durante mais de um ano. Eu já o sabia decorado. Mas quando finalmente estreou, o filme não decepcionou. Pelo contrário.

Existiam inúmeros outros cinemas na cidade, espalhados pelos bairros. Porém esses três eram os que apresentavam mais novidades. Eram os filmes que faziam sua estreia na cidade.


Mas, vamos ao que interessa. Eu pergunto aos presentes: qual foi a melhor Morte da sua vida? Não, eu não estou ficando maluco. Falo da Morte como personagem de algum dos filmes que assistimos.

Bom, cada um tem a sua Morte-personagem predileta. Eu assisti a muitas ao longo desses tantos anos de plateia. Assim, vou me deter sobre as que mais me impressionaram.

Começo pela Morte mais antiga registrada em minha memória. Talvez seja a que mais tenha me impressionado, pois lembro-me dela até hoje. Refiro-me ao personagem vestido com uma bata negra, encapuzado, que surge para avisar ao cavalheiro que tinha vindo buscá-lo. O filme? Um dos melhores de minha vida: "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman. Assisti a ele no Cine Brasil.

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O cavalheiro, recém chegado da Cruzada, exausto, falido, encontra a Europa arrasada pela peste negra. Todos os seus parentes estão mortos. Ele, então, diz à Morte que não pode acompanhá-la naquela hora, pois precisa encontrar um sentido para tudo o que lhe aconteceu, desde a sua adesão à invasão da Palestina até o seu retorno.

Como a Morte insiste em levá-lo, ele propõe um acordo: jogar uma partida de xadrez antes de partir para o Além. Grande aficionado do esporte, a Morte aceita o desafio. Sem relógio para marcar o tempo da partida, dias se passam entre um lance e outro. Ambos são bons jogadores e a partida promete nunca terminar.

E assim o cavalheiro tem tempo para encontrar as respostas para as suas dúvidas da vida. Sensacional!


Muitos anos depois, morando em São Paulo, assistimos "O Show Deve Continuar" (All That Jazz), um filme autobiográfico (eu acho) de Bob Fosse. A música de introdução, "On Broadway", é muito gostosa, um ritmo contagiante, executada por George Benson.

As cenas de dança também são muito bonitas, sensuais até. O filme tem Roy Scheider como ator principal. No entanto, quem rouba a cena é a belíssima Morte, interpretada por Jessica Lange.


O diálogo entre os dois paga o filme. Desenvolve-se num camarim, ao longo da película, numa seqüência muito bonita, do ponto-de-vista estético e cinematográfico.

Preciso rever outra vez esse filme, um dos melhores para mim, na categoria Musical.


Há alguns anos assistimos ao ótimo filme "Encontro Marcado", no qual Brad Pitt encarna uma das melhores Mortes. Ele vem à Terra para buscar Anthony Hopkins, sempre exuberante como ator. Mas cá embaixo a coisa é diferente de lá do Céu. Assim, Brad Pitt conhece a filha de Anthony Hopkins.

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Acontece que a moça é muito bonita, e como a carne é fraca a Morte se apaixona por ela. Por isso aceita fazer um acordo com a sua futura vítima, permitindo que sejam esticadas as permanências de ambos aqui em baixo. Belo filme, excelentes atuações, boa fotografia, enredo excelente e diálogos marcantes.


A mais recente das minhas Mortes prediletas encontrei num dos melhores filmes que vi na vida. Acho que é o melhor de Robert Altman, um de meus diretores favoritos, o qual deixou uma filmografia rica, em todos os sentidos. Trata-se de "A Última Noite".

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Como diz o título, o filme apresenta a última noite de uma estação de rádio do centro-oeste norteamericano. A emissora foi vendida e o prédio será demolido no dia seguinte. A história se desenvolve ao longo do seu último programa noturno de auditório. As músicas são lindas, um pouco melancólicas, uma tristeza bonita, talvez influenciada pelos acontecimentos.

O elenco é espetacular: Meryl Streep, Kevin Kline, Tommy Lee Jones, John Reilly e a linda Lindsay Lohan são alguns dos atores.

Uma boa característica de Altman é que, na introdução do filme, ele mostra os personagens que terão os seus dramas encenados ao longo da "última noite" do programa. Com esta película, o diretor parece querer anunciar o fim da Era do Rádio.

Todos os personagens são introduzidos na cena, exceto um: a bela Morte, que desliza suavemente entre público, músicos e cantores, fazendo um contraponto, uma ligação muito interessante entre as histórias de cada um.


Virginia Madsen faz uma Morte muito charmosa e Kevin Kline dá um show interpretando o segurança da rádio. Prestem atenção ao recurso de câmera que o fotógrafo usa para introduzir a Morte no escritório do segurança, no minuto 16 da película. Puxa, que filme!

Essas são as quatro melhores Mortes da minha vida. E as suas, quais são?


José Mário Espínola é médico e escritor

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  1. Ir ao cinema é muito mágico, contemplar esta sétima arte que faz parte da memória de nossas vidas....

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  2. Grande Zé: por mais que você tenha se esforçado e até conseguido tornar interessante a segunda parte do texto, ela fica apagada diante do roteiro sentimental que você traça na primeira parte do texto, que me fez reviver a minha própria iniciação no mundo mágico do cinema e que achei muito boa mesmo.

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