Qualquer aluno do ciclo básico de Sociologia compreende que as relações sociais e de trabalho mudaram radicalmente nos últimos anos e tornaram-se mais flexíveis. Velhos paradigmas estão sendo quebrados através de novas formas de sociabilidade advindas do neoliberalismo, provocando profundas mudanças nos costumes, hábitos e valores.
Da mesma forma, percebe que o Brasil vem mudando suas relações políticas diante do crepúsculo das velhas oligarquias que, por estacionarem no tempo, foram superadas pelo advento da sociedade de informação que, sistematicamente, vêm esclarecendo o cidadão e minando os alicerces do atraso, do engodo e da manipulação.
Não é preciso ser cientista político para apreender que as maiorias silenciosas, que caminham sutis como verdadeiras sombras, vêm impingindo novas formas de ação política que superaram a retórica dos saudosos comícios, da propaganda política ou do abraço incongruente com o verdadeiro afeto.
Os grandes institutos de pesquisa nunca sentiram tanta dificuldade em arriscar prognósticos em decorrência da apatia e do ceticismo das sombras silenciosas. Este ano haverá eleições. No entanto, os candidatos encontram-se atônitos diante de uma situação inusitada, sobretudo, com a pandemia da Covid-19. Essa peste, lembrando Camus, só veio ressaltar a saturação das maiorias silenciosas com as caducas e enraizadas práticas políticas.
Há dias atrás, uma espécie de carreata foi realizada no interior do Estado. Não foi levada a sério porque as pessoas receberam os manifestantes jogando baldes d’água. Tempos atrás, tal modalidade de manifestação política era recebida como festa e muita gente contava a quantidade de automóveis que participava em cada agremiação, deduzindo que a vencedora era a que exibia mais veículos.
Igualmente, trios elétricos eram motivos de festa e alegria. Hoje chegam a irritar o eleitor que, a cada instante, percebe que o silêncio faz parte do meio ambiente saudável. Da minha parte, concordo com o pensamento do filósofo alemão Schopenhauer que asseverava que o grau de imbecilidade de uma pessoa é proporcional ao nível de barulho que esta suporta.
A única certeza evidenciada é que as velhas práticas oligárquicas e coronelistas não são mais aceitas. Alguns remanescentes saudosistas destas carcomidas oligarquias percebem que não encontram aceitação, notadamente, nos segmentos jovens que, por natureza, são irreverentes.
Por outro lado, os segmentos dualistas, radicais e maniqueístas, que ideologizam até remédios, não representam o País, pois são favas contadas. O enigma está, justamente, nas minorias silenciosas.
Josinaldo Malaquias é pós-doutor em direito, doutor em sociologia e jornalista