Embora se tenha tornado, pela tradição popular, um mês aziago, o chamado mês do cachorro louco, Agosto, em sua origem, não é nada disso. Agosto vem de Augustus, uma homenagem a Octavius Augustus Caesar, o princeps, conhecido mais comumente como o imperador romano César Augusto.
Em seu nascedouro este mês se chamou Sextīlis e era, de fato, o sexto do ano, numa referência à sua ordem no calendário romulano ou no calendário de Numa Pompílio, posterior ao de Rômulo, ambos do século VIII a.C. Mesmo que Numa tivesse acrescentado dois meses ao seu calendário – Janeiro e Fevereiro –, o mês Sextīlis continuou como sexto, tendo em vista que os meses acrescidos foram postos ao final do ano, depois de December, dezembro.
Esta ordem permaneceu até 153 a.C., quando o início do ano foi mudado para o dia primeiro de janeiro, momento em que os cônsules romanos tomavam posse. A mudança não era apenas movida pelas necessidades administrativas, mas, sobretudo, religiosas. Os sacerdotes, responsáveis pelo calendário e pelo estabelecimento das Nonae (Nonas), desde o primeiro dia do mês, as Kalendae (Calendas), perceberam que o mês de janeiro celebrava a chegada do novo sol, que crescia em intensidade desde 21 de dezembro, dia do Solstício de Inverno, para atingir seu apogeu, no dia 21 de junho, no Solstício de Verão.
Os dois meses acrescidos por Numa Pompílio foram, assim, deslocados, fazendo o ano começar em janeiro, sendo seguido por fevereiro. Com esse deslocamento, o mês Sextīlis perdeu sua função de ordinal e passou, de sexto a oitavo. Mesmo com a reformulação do calendário feita por Júlio César, em 46 a.C., com o auxílio do astrônomo grego Sosígenes, Sextīlis continuou como oitavo mês, porém com o acréscimo de 2 dias, de modo que continuasse a ser um dos meses plenos (menses pleni), de 31 dias, em número ímpar, que era agradável aos deuses, em oposição aos meses cavos (menses caui), com apenas 30 dias.
Como se pode ver, desde a sua criação que Sextīlis, com número ímpar, seja 29 ou 31, nascera chamando os augúrios. Com a morte de César, em 44 a.C., Otaviano ascende ao poder e constitui o segundo triunvirato, juntamente com Marco Antônio e Lépido.
Morto Lépido (12 a.C.), Augusto assume o Pontificado Máximo e reordena, em 8 a.C., o Calendário Juliano, que havia sido deixado de lado. No reordenamento, diz Suetônio, ele chamou o mês SEXTīLIS de Augustus, seu próprio cognome (“Sextilem mensem e suo cognomine nuncupauit”, De Vita Caesarum, Liber Secundus Diuus Augustus, 31), tendo em vista que foi nesse mês que ele obteve o seu primeiro consulado e importantes vitórias militares. O nome do mês remetia ao título de Augustus, recebido em 27 a.C., cujo significado é o de “aquele que aumenta, aquele que acrescenta”, confirmando o fato de que, na sua origem, não era de ocorrências fatídicas, mas um mês que poderia trazer o aumento, o acrescentamento para o império. Já Princeps e Pontifex Maximus, só faltava a César Augusto o título de Pai da Pátria (Pater Patriae), que obteria em 2 a.C., para sintetizar em um único homem todas as honrarias romanas.
Se o princípio do estabelecimento da Pax Augusta ou Pax Immota foi com a vitória em Filipos, o ápice se dá depois da batalha de Actium e da morte de Marco Antônio. Seria um longo período de paz nas províncias e em Roma, sobretudo, que só passaria por nova guerra civil em 68-69, após a morte de Nero.
Nada mais natural, pois, do que nomear um mês com seu nome, até pelo fato de que o nome Octauius, proveniente da Gens Octauia, depois tornado Octauianus, quando adotado pela Gens Iulia, a família de César, é um nome cuja etimologia remonta ao número oito. Não se credite a isto, no entanto, um ato da vontade vaidosa de Augusto. O nome do mês foi acolhido após uma decisão do Senado, através de um senatus consulto.
Milton Marques Júnior é doutor em letras, professor, escritor e membro da APL
