Considero a Universidade Federal da Paraíba, a minha amada UFPB, a minha mãe espiritual. No perpassar de quase 40 anos – quatro na graduação e 34 como docente – aprendi a venerar tal templo de sabedoria. Nunca me curvei a ninguém, a não ser para o saber, pois coonesto o vetusto axioma de que só o saber é poder.
Pode parecer prosaico o que escrevo, mas sou preto, feio e vim do interior, tangido pela miséria. A UFPB acolheu-me e proporcionou-me condições para chegar ao topo de uma carreira universitária passando por uma graduação, um Mestrado, um Doutorado e um Pós-Doutorado, este último, feito na Espanha. Os demais títulos foram obtidos aqui mesmo, por amor e bairrismo por tão divinal instituição.
No início da minha jornada como docente, cheguei numa padaria de um conterrâneo, panificadora que faliu, com a professora Thereza Calvet. O proprietário fez questão de ser “sutil” dizendo que me admirava porque em Alagoa Grande, minha terra natal, eu “não era nada”. Realmente, no imaginário tacanho e preconceituoso de muitos, um pobre e negro não pode ser docente universitário.
É por isso que admiro e reverencio o saudoso ministro Abelardo Jurema, pois foi o mesmo que, quando Deputado Federal, apresentou o projeto de federalização da mencionada Universidade, num visão vanguardista de inclusão de pretos e pobres, vítimas de solertes mitos de supremacia racial e determinismos hipócritas, transformando a Paraíba num celeiros de pensadores.
Sempre que tenho oportunidade, escrevo sobre a importância de Abelardo Jurema para o desenvolvimento acadêmico paraibano. Para mim, é como um hino patriótico que deve ser cantado e decantado. Há muito tempo venho escrevendo e, muitas vezes, sugerindo em reuniões acadêmicas, que o Centro de Ciências Jurídicas deveria se chamar Centro de Ciências Jurídicas Ministro Abelardo Jurema.
Na última sexta-feira enviaram-me um questionário sobre a criação de um memorial acerca da história da UFPB. De pronto sugiro o nome de Memorial Ministro Abelardo Jurema. É imperioso afirmar que a UFPB deve, e muito, ao esforço de Jurema pela sua federalização e, por isso mesmo, não pode deixar ao olvido tanta abnegação e espírito de vanguarda científica.
A UFPB precisa resgatar o nome do e-ministro, o qual foi vitimado por um ardil de um golpe militar de triste memória, que tudo fez para apagar o seu papel na construção da academia paraibana. Ele não pode mais ser vitimado, quando gozamos das prerrogativas de um Estado Democrático de Direito que não pode mais imolar a Justiça no altar do próprio templo da Justiça.
Todos os pobres, negros, excluídos que obtiveram a inclusão social através da UFPB não podem jamais esquecer a luta, a abnegação, o idealismo e o esforço de um homem que, pagando muito caro, não capitulou em deixar o legado insubmisso de que só o saber é poder.
Josinaldo Malaquias é pós-doutor em direito, doutor em sociologia e jornalista