Alguém me disse que caligrafia está caindo em desuso. Para quê — perguntam? Ao toque de teclados de computador e semelhantes é possível elevar o pensamento ou o trabalho escrito com muito mais facilidade.
As antigas máquinas datilográficas já prenunciavam uma era de desqualificação da arte caligráfica; de manuais passaram a elétricas, de elétricas a computadores. Moleza! Um amigo meu me contou que o neto escreve numa rapidez incrível, tornando o caderno de pautas obsoleto, o lápis grafite abandonado, a esferográfica esquecida dentro da bolsa de escola.
Quando rabisca no papel virgem, os hieróglifos dos antigos textos sumerianos são decifrados mais facilmente. O menino sai entortando o manuscrito em declínio, fazendo movimento de montanha russa e puxa pernas em letras, transformando em polvos o texto ou a chamada tarefa de casa. O avô fica aéreo, como se estivesse diante da esfinge: “decifra-me ou devoro-te”.
Conheço diversos adultos assim, que rabiscam sinais no recado escrito, parecidos com saúvas ou aranhas vindas do bico do lápis-tinta. Caneta-tinteiro caiu da moda. O teclar hodierno faz o milagre de encher a página virtual, como agora o faço.
Aliás, para ser bem sincero, estou esquecendo minha caligrafia. Há algum tempo, ao redigir, valia-me do lápis e cadernos. Nunca mais pratiquei tal exercício com habitualidade. Somente retorno ao quase sumido processo de escrever em pequenas anotações, em tópicos para artigos, crônicas, no que sai da imaginação ou no que puxo da realidade.
Sei que alguns estudantes utilizam muito as anotações em cadernos volumosos. E por longo tempo será assim. Portanto, eis o pote do arco-íris encontrado e que nos leva a afirmar que a arte caligráfica demorará a desaparecer ou se tornar diminuta. Dá-nos vontade de voltar a deixar de escrever de forma direta sobre o espaço virtual estendido na tela do computador. Aliás, é mais humano e humanizante: uma espécie de fuga ao vício de teclar; umas “férias” e a volta às origens.
Ninguém se assombre. O amigo de que falo, na abertura deste texto, informou-me sobre a existência de estudos científicos a indicar que quem usa mais a caligrafia (caligrafia boa, bem desenhada, cuidada), como recomendava a saudosa Adelita Bezerra Cavalcanti, diretora do extinto Grupo Escolar “Thomaz Mindello”, desenvolve a mente, exercita as sinapses, deixa o cérebro em atividade.
Em assim sendo, continuemos com o olhar no retrovisor da “caligrafia exercitada” – maneira eficiente de manter-se esperto e viver a emoção pela qual passamos, naqueles cadernos próprios de aprendizado caligráfico, da marca “Companheiro”.
José Leite Guerra é bacharel em direito, poeta e cronista