Todo pessoense deveria visitar a região central da cidade pelo menos uma vez durante um dia de domingo. E isso com tempo, sem a pressa diária da semana, a pressão dos ponteiros do relógio, das buzinas dos carros, das vozes indistintas que cruzam calçadas e ruas. Apenas na companhia do silêncio e do vazio de gente. Esse encontro com João Pessoa seria mais que compromisso, mas um passeio prazeroso.
A visitação seria iniciada pela Lagoa do Parque Solon de Lucena, seguindo pela histórica e democrática Praça João Pessoa, com suas palmeiras, estátuas, bancos, canteiros e os prédios dos três poderes e da Faculdade de Direito ao seu redor. Vazio, sem a agitação da semana, o local fica ainda mais belo.
Dali, o caminho pela Rua Duque de Caxias, a antiga Rua Direita, passando pelo espaço do Ponto de Cem Réis em direção ao largo da Igreja de São Francisco. No trecho a partir da Praça Rio Branco é possível apreciar o casario erguido em décadas passadas, que culmina com os dois belos sobrados onde está instalada a Academia Paraibana de Letras (APL).
Depois de contemplar o cruzeiro e a linda construção do Complexo de São Francisco, a visita deve prosseguir em direção à lateral da Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, igreja de construção do século passado, diante da Avenida General Osório. Ali, do alto, a via se estende ladeada por árvores e mais construções históricas. À direita, o belíssimo Mosteiro de São Bento, datado do século XVII, e a igreja, do século XVIII.
Se, antes do passeio, o cidadão tiver acesso a fotos e relatos da primeira metade do século passado, houver prestado atenção aos detalhes, caso feche os olhos conseguirá imaginar e se transportar para aquela época, em que poucos carros e os bondes movimentavam o local. Será capaz de recriar os cenários antigos da Festa das Neves com seus parques, barracas e quermesses. Revisitará a mesma e histórica capital que já se chamou Parahyba.
E se mais tiver disposição, siga pela ladeira de São Francisco, onde encontrará a restaurada Casa da Pólvora. Se antes o local era o arsenal dos tempos de guerra no Brasil Colônia, onde portugueses e, durante algum tempo, holandeses armazenavam seus armamentos, agora serve de palco de resistência para as artes e de onde se tem uma bela vista da Cidade Baixa, banhada pelo rio Sanhauá e o seu encontro com o rio Paraíba.
Um pouco mais de caminhada ladeira abaixo rumo à Praça Antenor Navarro, com seus sobrados, o caminhante encontrará o Largo da Igreja de São Frei Pedro Gonçalves, construída em 1843 e de arquitetura eclética. Sem falar do Hotel Globo e sua bela vista para o Sanhauá que presenteia os visitantes no final de tarde com um lindo pôr do Sol.
O itinerário deve ser percorrido devagar, com olhar contemplativo. Que cada canto seja visitado com atenção. A visita é um passeio por séculos gravados em pedras que deram forma a igrejas e sobrados. Pelos cenários que compõem a cidade antiga, que nasceu às margens do rio, que foi fundada no longínquo 5 de agosto de 1585 e que cresceu em direção ao mar, um capítulo de resistência ao tempo, aos homens. Vale a pena visitar esta cidade.
Clóvis Roberto é jornalista e cronista