Criar animais em casa proporciona um grande prazer. Claro que nem todos gostam desta intimidade cotidiana. É uma questão pessoal. Temos de ...

O verdadeiro amor

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Criar animais em casa proporciona um grande prazer. Claro que nem todos gostam desta intimidade cotidiana. É uma questão pessoal. Temos de respeitar e compreender as pessoas que, por algum motivo, nem sempre explicável, rejeitam qualquer aproximação. Há quem se arrepie ou tenha medo diante de um simples gatinho, sem nem saber por que. Inadmissível, porém, é maltratar um ser puro e indefeso.

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Somente quem gosta de animais é capaz de avaliar o bem que fazem. Da mesma maneira que aprendemos lições valiosas com as flores, cultivadas num vaso, canteiro ou jardim, há lições inestimáveis que esses seres especiais estão sempre nos dando.

O único problema é que, em situações normais, eles vivem menos tempo do que nós. Daí termos que enfrentar periodicamente dolorosas perdas. Ainda mais tristes quando ocorrem prematuramente por acidente ou doença. E aí, a falta que fazem é tão grande que logo vem a ideia de não querer mais nenhum deles em casa.

Mas, nem sempre é o melhor caminho. Digo por longa experiência, criando-os desde a mais tenra idade. Nunca faltou a adorável companhia destes irmãozinhos tão especiais. Bem diversa, por sinal. Certa vez aperreei tanto meu pai que até um cabrito ele trouxe para nós. Eu e meu irmão, Carlos, temos ótimas lembranças desta convivência que também se estendeu por coelhos, mocós, galinhas e cachorros.
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De um tempo em que a liberdade nos permitia ir buscar capim para eles e brincar na rua.

Mais tarde descobrimos os gatos, caracterizados pela autonomia, asseio pessoal, personalidade reservada e afetuosa. Adoram fazer e receber carinho. Uma troca muito gratificante.

Nos anos decorrentes, não houve ausência destes meninos em nossas vidas. Exceto diante dos óbitos que invariavelmente causam profunda tristeza. Ainda que procuremos entender, desde cedo, que a probabilidade de partirem antes de nós é bem maior.

Da última vez, após 16 anos em nossa companhia, Beethoven, um adorável peludo cinza com olhos cor de mel, foi perdendo mobilidade, passou até a usar fraldas e apagou-se bem velhinho. Seus últimos suspiros foram nos meus braços, molhados pelas lágrimas que escorriam da saudade. Em seguida, sepultamos seu corpo na relva que borda a praia, perto de flores e ao som do marulho. Um vazio profundo sucedeu-se dentro de casa nos dias seguintes…

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Mas de todos os anos de experiência com esses filhotes uma coisa aprendemos. Não há melhor alternativa para preencher a dor da perda deles do que providenciar imediatamente outro. Não que venham a substituir plenamente os que partem, mas por serem capazes de preencher a lacuna com contagiante graça e beleza. Logo o amor supera a saudade e nos faz felizes de novo.

Assim decidido, fui escolher, dentre 5 irmãozinhos, o próximo que traria para casa. Que escolha difícil. Após vê-los brincando no chão, punha um a um na mão, e tentava encará-los em busca de uma sintonia “superior”. E assim aconteceu. Um deles, aliás o único, me encarou, olho no olho, em uma afinidade que surpreendeu até o criador. Olhei para ele, e disse: “é esse, está decidido”.

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E Vivaldi veio morar conosco, bem pequenininho, com apenas 3 meses. Espantado no início, inclusive com Rameau, o outro que já tinha um ano, olhava tudo com medo. Passou o dia inteiro escondido. Só apareceu uma ou duas vezes quando a fome domou o medo. Depois, foi só alegria. Hoje são inseparáveis brincalhões, compartilham carinhos e peripécias, enchem a casa de alegria, sem saber, ou talvez sabendo que são irmãos.

Vez por outra, quando seguro Vivaldi no alto e encaro-o frente a frente, logo me vem à lembrança aquele primeiro e definitivo olhar, que com o meu se fez um. Tal como na noite em que a luz de um outro olhar, do qual não mais me afastei, há quase 30 anos, me deu absoluta certeza de onde vem, realmente, o verdadeiro amor...


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

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  1. Perfeito e comovente. São Francisco de Assis diz que o grau de humanidade de uma pessoa está na forma que a mesma trata os animais.

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  2. Ah, Germano, Beethoven parece com Mimo...
    Que belo texto!!! É verdade, esses bichinhos trazem tanta alegria ao nosso cotidiano... E como são sensíveis.... Amei!!!

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  3. Parabéns Germano Romero!!! Eles e você se identificam!! os animais também nutrem impatia!! e suassensibilidades são perceptíveis aos semelhantes amigos/donos/pais.
    Paulo Roberto Rocha

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