São admiráveis as pessoas que amam a vida, lutam por ela e sabem conviver com otimismo e esperança. E nas condições mais adversas mantêm a força vital, dando tudo de bom a si e aos outros. Sobretudo as que amam a vida sem o exagerado apego às coisas materiais, atentas à fluidez do tempo e à efemeridade do existir.
Certamente os que assim se conduzem, íntima e exteriormente, experimentam transição serena após se desenlaçarem do corpo a seguir viagem. E veem que valeu a pena.
Wilson Aquino é um exemplo autêntico do “bon vivant”, espírito leve, amoroso, cativante, bem-humorado, que sabe estar de bem com a vida. Tudo se reflete na conversa, no olhar, na maneira de saudar, de atender, de se dirigir ao próximo, de conviver enfim.
Semeou e colheu do que construiu em família, na profissão, na conduta cristã, edificando o precioso tesouro “que a traça não rói e o ladrão não rouba”: o único valor que se leva para o céu da consciência em paz, do dever cumprido e do amor distribuído.
Felizes os que podem ver luz no rastro que deixam, na boa impressão e no sentimento dos que consigo conviveram. Felizes os que nunca desvalorizam a vida, lutam até o fim, se fortalecendo das energias que os acompanharão. Felizes dos que têm oportunidade de se preparar com lucidez, rodeados de amor, para o voo do espírito.
Felizes dos familiares e amigos que poderão se lembrar de Wilson com eterna gratidão, sintonizados com seu sorriso otimista, sua mensagem de ânimo e o amor pela vida. E que dele possam receber as vibrações que lhes intuirão a continuar inspirados no seu exemplo.
Que Therezinha, sua amada e dedicada companheira, alma boa e iluminada da mesma essência, abençoada pelo amor incondicional de filhos exemplares, moldados cuidadosamente à imagem dos pais, possa desfrutar a merecida paz, com a resignação e a serenidade que edificam e protegem.
Temos com a família Avellar de Aquino laços de afeto inestimável. Nossa amada mãe, Carmen, e Therezinha, ambas pianistas e professoras de piano, conviveram fraternalmente como colegas e amigas. Carlos Romero, o pai querido, tem especial amizade por Wilson, não somente do coleguismo profissional, mas da mesma cepa de amor à vida e ao próximo.
Quando iniciei, ainda garoto, os estudos de piano no Conservatório Paraibano, Therezinha se destacava como professora distinta, elegante, amável, daquelas pessoas que gozam unanimidade na boa impressão. Mais tarde, no Bacharelado de Música, veio a grata oportunidade de conviver com Felipe, um dos quatro filhos do casal, que com a mesma fidalguia nos dão a certeza da origem. Cheguei a tocar com Felipe na UFPB, em duo de piano e violoncelo, instrumento que ele domina até hoje, no ensino e na prática, projetando nossos valores musicais pelas universidades da Europa.
Do bom humor de Wilson, há dois fatos que merecem ser lembrados. Vaidoso com a boa aparência e excelente forma física, certa vez, ele perguntou na farmácia onde papai também frequentava: “Gostaria de saber quais são as vitaminas que Carlos toma para ficar bonito como ele”.
Mediante rumores de que eu havia me candidatado à vaga deixada pelo pai cronista na academia de letras, ele prontamente me telefonou para dizer que pensava em se inscrever ao pleito, mas que soubera de minha intenção. Quando confirmei, ele imediatamente disse: “Está retirada a minha pré-candidatura. Eu jamais prejudicaria o seu nobre e merecido intento”. Vou torcer por você. Que homem admirável!
Pois é, amigo Wilson. Só não ficamos tristes por termos a absoluta certeza de que você está muito bem. Pelo bem que fez, pelo bem que cultivou e pelo bem que deixou com sua família, que terá de você a incomparável gratidão das boas lembranças.
Germano Romero é arquiteto e bacharel em música