Do alto do décimo nono andar, recluso num apartamento, vejo nas artérias da metrópole mil formigas caminhando. Deslocam-se de cá pra lá, de lá pra cá, umas indo, outras voltando sem que possamos conhecer o destino de cada uma.
Pequenos seres, de conteúdo variado, uns calmos, outros agoniados, vêm e vão em busca de não sabemos o quê. Talvez nem eles mesmos o saibam. Vão para não sei onde para chegar não sei quando. As cabeças são vulcões prontos a explodir e espalhar lavas de mágoas e revoltas. Por quê? Ninguém tem a resposta. Porque não sabem quem são como eu mesmo não sei o que habita em mim.
A cada dia aprendo algo novo e me decepciono com o que parecia importante até o minuto passado. Quanto mais sei vejo que nada sei. Numa escala de 1000 conhecimentos, detenho apenas 0,001, se é que não estou sendo otimista. Isso vale para cientistas, gênios e pós graduados. Ouço de mistérios, extraterrestres, revelações. Quem sabe registros de uma civilização humana, ou duas, ou três, que já viveram aqui e desapareceram nos cataclismos que se repetem. Brumadinhos em âmbito planetário. Pompeias continentais, eras glaciais, dilúvios universais ou tsunamis que baniram civilizações. Mas nós? Viemos de onde? Onde estávamos antes de imigrar para este mundo? Ou nem éramos ainda? As perguntas são inúmeras, mas ninguém tem as respostas.
Pigmeus diante da Lei Maior, a ela damos uma porção de nomes. Um deles é Deus, que ao longo da história foi confundido com algo punitivo, que se vinga dos maus e dá prêmios aos bons. Criou-nos, dizem, mas discrimina suas criaturas exigindo delas o que não podem dar porque nada entenderam dos seus propósitos e objetivos.
De repente, alguém me pergunta: — O que você pensa do vírus? E eu lhe respondo: Qual?“Navegar é preciso, mas viver não é preciso”, já ensinou o poeta, definindo as imprecisões desta viagem. Uma descoberta diária que para amanhã já está velha. Lembramos do ontem, com mágoas ou saudades, queremos chegar depressa ao amanhã, tempos que não existem, e não damos importância ao hoje, aqui, agora, de duração sempre efêmera. Ninguém vive no futuro ou reside no passado.
Um dos nossos flagelos é a saudade. Quando boa, nos entristece por não poder desfrutá-la novamente agora; quando má, é um flagelo reprisado que nos faz sofrer novamente. Só do agora dependemos e tem matéria prima para a construção de uma consciência feliz. O resto é mera consequência!
Enquanto rabisco estas tolices, da sacada continuo vendo o vaivém das formigas humanas, umas sobre as próprias pernas, outras em suas máquinas loucas, com pressa para chegar a lugar nenhum…
De repente, alguém me pergunta: — O que você pensa do vírus? E eu lhe respondo: Qual? O vírus do medo, da falta de fé, da mágoa, do rancor, da vingança, da preguiça, da revolta? A qual vírus você se refere? Ao da pandemia… que pode matar. Ah! Se esse me matar estou condenado, por minhas imperfeições, a nascer de novo; mais depressa do que imaginam. Não me aceitariam no Céu, por enquanto, nem me reteriam no inferno, porque meus pequenos méritos me qualificam a algo um pouco melhor.
O que, então? Só nascendo de novo neste mesmo purgatório para acertar mais algumas contas. Com a ajuda do Pai Eterno. Amém!
Octávio Caúmo é jornalista, educador e poeta