Os mais experientes podem associar o nome ao trio formado por Paula Toller, George Israel e Bruno Fortunato – também conhecido como Kid Abelha e seus Abóboras Selvagens – que fez grande sucesso nas paradas musicais da passada década de 80 e disparou com uma música denominada “Como eu quero”. Só na saudosa Rádio Universitária, Everaldo Pontes programou tanto esta faixa que o LP, contendo a mesma, chegou a ser furado.
Mas, aqui classifico como “Kid Abelha” o cidadão que deixa tudo para amanhã ou “faz cera” nas suas atividades laborativas. É aquele que não sabe administrar o tempo nem a própria vida. O exemplo fica por grande parte de estudantes e “concurseiros” que deixam tudo para última hora já intuindo o previsível resultado.
Para contextualizar, cito o emérito Professor Milton Marques Júnior que já foi “vítima” de muito aluno que chega de olheiras, reclamando que passou a noite “estudando” para entregar-lhe uma tarefa ou fazer qualquer exame acadêmico. Com seu jeito sacerdotal ele pergunta: - E o “quico”? Antes do estudante se exasperar indaga: - “O que tenho a ver com isso”?
O leitor pode perguntar se Milton disse uma coisa tão profunda desta. Acredito que não, mas que pensou... pensou. No entanto, acho que o vetusto educador de gerações está mais preocupado com a contemplação das dríades e hamadríades, eternamente apaixonado pela beleza de Afrodite e seduzido pela malícia de Frinéia.
Desconheço se Milton daria espaço para a procrastinação, verdadeiro flagelo de muitos jovens em idade produtiva. Destes que, desdenhando do tempo, vivem tensos e com o pulso mais acelerado do que coração de ladrão, pois, conscientemente, percebem que “fazer cera”, postergar e adiar responsabilidades interrompem o próprio processo evolutivo.
Negligenciar as responsabilidades é o melhor exercício para o condicionamento na preguiça, na lerdeza e na indolência. O preço a pagar é muito caro porque tais atitudes são geratrizes de sentimento de culpa e vergonha, vergonha de ter falhado consigo próprio.
Daí a grande admiração que tenho Henry Ford, que soube combater o desperdício de tempo mediante de um projeto que contempla a capacidade de iniciativa e a certeza de que o trabalho é o instrumento supremo de realização humana. Não é à toa que cria um modelo científico de administração industrial denominado o Fordismo.
Por meio do Fordismo desvela-se que ninguém nasceu para criar sob pressão. Daí lamentar aqueles que só sabem trabalhar sob forte vigilância ou ameaça, e que, quando se veem “livres”, “fazem corpo mole”. É o tipo que faz piada com o chefe dizendo que este é semelhante às nuvens: quando saem, o céu fica limpo. Com isso, potencializam a incapacidade para administrar o próprio tempo e, consequentemente, a própria vida.
Josinaldo Malaquias é pós-doutor em direito, doutor em sociologia e jornalista