Num rompante, ou mesmo por questões de mágoas profundas de quem vive ruminando ressentimentos, desejar a morte de alguém pode parecer um sentimento compreensível, é do humano, do humano infeliz, mas humano. O que não me parece compreensível e nem natural é alguém sentar, pensar, calcular, elaborar um raciocínio e sob a falsa alegação de “raciocínio filosófico”, desejar a morte de alguém, tornar isso público e oficial, através de artigo na grande imprensa. É assim que as ideias perigosas tomam corpo.
É assim que de um desejo de Hitler, enviado por Göring ao general da SS Reinhard Heydrich e deste para o diplomata Martin Franz Julius Luther, a ideia da remoção dos judeus vai crescendo e desemboca na “solução final” do holocausto, depois de reuniões em que o assunto passa a ser meticulosamente discutido e planejado.
Uma ideia perigosa é tudo o que um estado totalitário deseja para se firmar pelo terror, com uma falsa justificativa de estar fazendo o bem para a população, afastando e exterminando os que pensam diferente e, consequentemente, tido como inimigos e perigosos para o Estado.

O mais perigoso decorre dessas ideias estapafúrdias e ditas filosóficas – de qual filosofia? A platônica do Górgias e da República não é, pois Sócrates diz, em alto e bom som, que a justiça é a virtude da alma e é melhor sofrer uma injustiça do que praticá-la –, o mais perigoso é saber quem vai decidir quem deve ou não deve morrer, para o bem dos demais, depois de encampada a ideia e tornada oficial.

O exemplo da História quem nos conta são os revolucionários de 1789, na França. Exacerbando o movimento e descambando para um período de Terror (1793-1795), os jacobinos, sob o comando de Robespierre, guilhotinaram muitos revolucionários, como Danton. Antes de ser executado, Danton avisou ao antigo companheiro que ele seria o próximo a provar do próprio remédio.
E foi.
Milton Marques Júnior é doutor em letras, professor, escritor e membro da APL