poema
eis a fórmula
ou a forma:
a água
fura a rocha
e assim faço
o meu poema.
um poema-lâmina
(contundente)
que esmigalhe
e esfarele
como se fora
um dente.
não um poema
com o azul
da blue-blade,
mas um poema
que sangre
as maçãs da face.
um poema-lâmina
que prove e triture
as maçãs do rosto
com a mesma fome
e com o mesmo gosto
com que o primeiro homem
provou da maçã do paraíso.
este será o seu ofício:
ser lâmina e penetrar
e ferir e dissecar
e ir sempre além
do que se pode ir.
repudio o azul
de outras lâminas
diante do rosto
e do espelho
o meu poema
é uma lâmina
escura e cega
que abre sulcos
e impõe o medo
da descoberta
frente ao espelho.
da descoberta
que cada berlinense
só tem uma face
e que a outra lhe falta
quando de manhã
ao barbear-se.
da descoberta
que mesmo de frente
o berlinense
é de perfil
e que há entre
o oriental e o ocidental
um limite, uma divisão
de cimento, areia e cal.
O meu poema
poderia ser azul
como outras lâminas
mas isto cansa-me
e esqueço o lirismo
de poder dizer
que do azul da lâmina
saíram gaivotas,
verão e istmos.
meu poema não é istmo
pois nada une
apenas faz ver
de tudo a distância
e por isto é gume
e por isto é lâmina
e se quiserem
esterco, estrume,
que aduba a memória
frente ao espelho
e impõe a descoberta
de outras faces
partidas ao meio.
meu poema não é istmo,
isto nem aquilo,
meu poema é sabre e sabe
onde corre o rio
e onde incorre o risco
da descoberta de cada um
e por isto provoca
e rasga cortes
na superfície lisa
de cada um.
eis a fórmula
ou a forma:
a água
fura a rocha
e assim faço
o meu poema.
um poema-lâmina
(contundente)
que esmigalhe
e esfarele
como se fora
um dente.
não um poema
com o azul
da blue-blade,
mas um poema
que sangre
as maçãs da face.
um poema-lâmina
que prove e triture
as maçãs do rosto
com a mesma fome
e com o mesmo gosto
com que o primeiro homem
provou da maçã do paraíso.
este será o seu ofício:
ser lâmina e penetrar
e ferir e dissecar
e ir sempre além
do que se pode ir.
repudio o azul
de outras lâminas
diante do rosto
e do espelho
o meu poema
é uma lâmina
escura e cega
que abre sulcos
e impõe o medo
da descoberta
frente ao espelho.
da descoberta
que cada berlinense
só tem uma face
e que a outra lhe falta
quando de manhã
ao barbear-se.
da descoberta
que mesmo de frente
o berlinense
é de perfil
e que há entre
o oriental e o ocidental
um limite, uma divisão
de cimento, areia e cal.
O meu poema
poderia ser azul
como outras lâminas
mas isto cansa-me
e esqueço o lirismo
de poder dizer
que do azul da lâmina
saíram gaivotas,
verão e istmos.
meu poema não é istmo
pois nada une
apenas faz ver
de tudo a distância
e por isto é gume
e por isto é lâmina
e se quiserem
esterco, estrume,
que aduba a memória
frente ao espelho
e impõe a descoberta
de outras faces
partidas ao meio.
meu poema não é istmo,
isto nem aquilo,
meu poema é sabre e sabe
onde corre o rio
e onde incorre o risco
da descoberta de cada um
e por isto provoca
e rasga cortes
na superfície lisa
de cada um.
"A Ilha na Ostra
O poema desta publicação faz parte do livro “A ilha na ostra“, de autoria do poeta Sérgio de Castro Pinto, editado há 50 anos, em 1970, pelo Grupo Sanhauhá, com capa ilustrada pelo artista plástico Flávio Tavares.
Sérgio de Castro Pinto é doutor em literatura, professor e poeta