Enigma
Enquanto penso, teço enredos, crio imagens
Debruço-me sobre algo que não sei
Para engendrar-lhe um rosto.
Nenhuma ideia! Falsa fluidez, teia oblíqua.
Loucura, ânsia de flagrar no outro
O que tanto busco em mim.
No limite do medo e da coragem, exponho-me.
Abro gavetas travadas, reviro a alma
Desfiro golpes na percepção
Lanterna em punho, pelos becos interiores
Que velam e desvelam minha sombra
O outro. Num garimpo inútil.
Sem jamais encontrar o que faz dele enigma
Que se oferta e que escapa, se concentra
E se dissolve nele mesmo e em mim.
A noite
Só avança no inexorável
Parto doloroso.
Porta estreita
Que não leva ao céu.
Atalho para o inferno
Que espreita calado
Com suas tochas
De espanto
E saudade.
Só avança no inexorável
Parto doloroso.
Porta estreita
Que não leva ao céu.
Atalho para o inferno
Que espreita calado
Com suas tochas
De espanto
E saudade.
Busca
Meu anseio de azul
Não é sonho
É antes impulso
Tosca ressonância
Do que não entendo
Mas vive em mim
Correnteza que me arrasta
À vastidão de encontros
Em mergulhos e sobressaltos
No meu mundo submerso.
Milfa Valério é professora e poetisa