A atriz Patrícia Pilar esteve na Paraíba, em duas ocasiões, para gravações de seriado para televisão e ficou emocionada quando viu rebrotar a vegetação depois que choveu no Cariri. Foi quando, realmente, descobriu que aqui nascem os fortes, bem diferente do drama encenado e apresentado na TV.
Quando a aurora do povo brasileiro estava sendo lapidada, há cinco séculos, aqui nasceram pessoas destemidas que deram um grito de coragem no momento em que a nação, ainda em formação, era ultrajada.
Nossa terra despontava gloriosa aos olhos dos cobiçadores de patrimônio estrangeiro. Havia riqueza que brotava da terra e como herança continua ressoando aos ouvidos “o concerto formidável de aves, gorjeios de passarinhos, silvos de répteis, estrugido de feras, murmúrios de regatos, farfalhar das ramagens”, no dizer de Coriolano de Medeiros, pois ainda sentimos o ciciar da aragem aspergindo as enseadas com o perfume das acácias.
Apesar da paisagem escurecida pela fumaça quente das labaredas acesas pelos invasores, naquele cenário singular da orquestra da natureza de quase cinco séculos atrás, na Paraíba, surgiu o grito de centenas de guerreiros nativos. Naqueles dias orquestrou-se uma renhida luta, sem a qual seríamos hoje um pedaço do território com outra língua e outros modos de viver.
Intensos foram nossos heróis, hoje quase esquecidos, como o corajoso André Vidal de Negreiros e Pyragibe, afamado chefe indígena. Comandaram homens que tinham braços potentes e mãos destemidas. Deram o primeiro grito de independência e de liberdade que ribombou no alto da colina para ser ouvido no outro lado do oceano.
Forte também foi Dom Vidal, franzino homem que renasceu da oração e da dor para fazer ecoar sua voz num grito de libertação em 1817, e derramou seu sangue pela liberdade tardia, porque ousou enfrentar o furor da Colônia portuguesa.
Muitos outros têm magnificamente colocado a Paraíba em lugar de alto respeito, se não empunhando armas como os protagonistas do passado, mas usando o talento para os negócios e para a produção literária e artística. São homens silenciosos que constroem suas vidas com requinte de alegria.
Quase sempre pessoas sensíveis e apaixonadas pela vida, vertem lágrimas quando olham a paisagem verdejante do Cariri, onde mãos calejadas cavam a terra e semeiam esperança. O novo quadro da caatinga verde trouxe lágrimas aos olhos encantadores da atriz Patrícia Pilar, quando retornou três meses depois aos lugares outrora esturricados, não contendo a alegria ao observar o oásis transformado em esperança. Tirou a sandália dos pés para pisar o chão umedecido e fofo. Molhou os pés na água do açude e com as mãos em forma de concha pegou um bocadinho de água fresca e banhou o rosto.
“Parece que a vida saiu de um casulo, rebrotando cheia de vigor”, teria ela comentado quando reviu a terra verdejante, que outrora estava seca, sem vida.
Aqui, Patrícia, é onde realmente nascem muitas pessoas fortes.
José Nunes é poeta, escritor e membro do IHGP