Allan Kardec no capítulo IX da segunda parte de O Livro dos Espíritos dedica cento e duas questões, da 456 à 557, ao estudo da “Intervenç...

Ação dos espíritos no plano físico

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Allan Kardec no capítulo IX da segunda parte de O Livro dos Espíritos dedica cento e duas questões, da 456 à 557, ao estudo da “Intervenção dos Espíritos no Mundo Corpóreo”. Neste capítulo, o Codificador analisa a ação dos Espíritos no plano físico, que pode ocorrer de forma sutil, pela influência mental, ou claramente percebida nas diferentes manifestações mediúnicas, de efeitos físicos e intelectuais. A interferência dos desencarnados no plano físico pode, ainda, ser boa ou má, fugaz ou duradoura. Os Espíritos exercem também ação nos fenômenos da natureza.

1. Influência mental

É comum supor-se que a ação dos Espíritos só ocorre por meio de fenômenos extraordinários. Isto pode acontecer, mas é raro, ao contrário do que acontece no dia a dia.

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[...] Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que julgarão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a ideia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles atuam de tal modo que o homem, acreditando seguir apenas o próprio impulso, conserva sempre o seu livre-arbítrio.

Os desencarnados, desde que lhes interesse, aproximam-se dos indivíduos e, se as condições lhes forem favoráveis, estabelecem uma comunhão mental que permite conhecer desejos, emoções, pensamentos e ações de quem pretende influenciar. É o que afirmam as entidades que coordenaram a Codificação:

"457. Os Espíritos podem conhecer os nossos mais secretos pensamentos?

Muitas vezes conhecem aquilo que desejaríeis ocultar de vós mesmos. Nem atos, nem pensamentos lhes podem ser dissimulados."

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O interesse dos Espíritos nasce da afinidade estabelecida com o encarnado pelos processos de sintonia mental, como ensina Emmanuel:

“[...] é no mundo mental que se processa a gênese de todos os trabalhos da comunhão de espírito a espírito.” Precede a sintonia entre duas mentes a afinidade intelectual ou moral, ou ambas, pois “o homem permanece envolto em largo oceano de pensamentos, nutrindo-se de substância mental, em grande proporção. Toda criatura absorve, sem perceber, a influência alheia nos recursos imponderáveis que lhe equilibram a existência.”

Se elevados, os bons Espíritos estimularão o indivíduo para o bem; se atrasados, insuflarão sentimentos inferiores que podem conduzir a processos obsessivos, às vezes de grande complexidade. Em suma, acrescenta o benfeitor espiritual:

A mente, em qualquer plano, emite e recebe, dá e recolhe, renovando-se constantemente para o alto destino que lhe compete atingir. Estamos assimilando correntes mentais, de maneira permanente. De modo imperceptível, “ingerimos pensamentos”, a cada instante, projetando, em torno de nossa individualidade, as forças que acalentamos em nós mesmos. [...] Somos afetados pelas vibrações de paisagens, pessoas e coisas que nos cercam. Se nos confiamos às impressões alheias de enfermidade e amargura, apressadamente se nos altera o “tônus mental”, inclinando-nos à franca receptividade de moléstias indefiníveis. Se nos devotamos ao convívio com pessoas operosas e dinâmicas, encontramos valioso sustentáculo aos nossos propósitos de trabalho e realização. [...]

A partir da percepção dos pensamentos dos encarnados, os Espíritos sugerem ideias, que, se acatadas, podem alterar-lhes o curso da existência. É a sintonia mental, que se intensifica enquanto perdura. Como consta de O livro dos espíritos:

"459. Os Espíritos influem em nossos pensamentos e em nossos atos?

Muito mais do que imaginais, pois frequentemente são eles que vos dirigem”

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Em que pese os Espíritos diuturnamente inspirarem ideias, o indivíduo é livre para aceitá-las ou não. Como na maioria das vezes as ideias transmitidas vão ao encontro das do encarnado, este as acolhe com naturalidade, sem crítica ou oposição. Esta possibilidade, de contínua comunicação telepática entre encarnados e desencarnados decorre da mediunidade latente e comum a todas as pessoas.

[...] São essas comunicações de cada homem com o seu Espírito familiar que fazem sejam médiuns todos os homens, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão qual oceano sem limites, para rechaçar a incredulidade e a ignorância. […]

Yvonne A. Pereira, na obra Devassando o invisível, desenvolve importante estudo sobre a mediunidade e as ações dos Espíritos no plano físico. Dentre outros, a notável missionária relata que médiuns dedicados são conduzidos por seus amigos espirituais a elevadas regiões do mundo espiritual e são preparados para tarefas que deverão realizar. Ao acordarem, sem se lembrarem claramente do ocorrido, agem sob benéfica “sugestão hipnótica”, sendo que as instruções positivas recebidas lhes retornam à consciência, sob forma de intuição, por exemplo, no momento da oratória, da redação de textos elevados ou na tomada de decisões que beneficiarão a muitos.

Considerada a natureza como fonte primária da vida, ela deve merecer toda atenção, respeito e preservação
Às vezes, tais lembranças podem eclodir dias após o contato do médium com seu anjo guardião ou mentor, ou outro benfeitor espiritual. No entanto, se o médium não se eleva no trabalho do bem ou se nega, ou mesmo desconhece sua faculdade, pode emergir-lhe pensamentos e comportamentos desequilibrados, alimentados por entidades obsessoras, que lhe submeteu à hipnose negativa.

Existem obsessões produzidas pela hipnose, durante o sono natural. O médium, ignorante das próprias faculdades, e que, no caso, em geral não será espírita, deixa-se dominar por um inimigo invisível, durante o sono. Afina-se com o caráter deste e recebe suas ordens ou sugestões, tal como o sonâmbulo às ordens de seu magnetizador. Ao despertar, reproduz, mais tarde, em ações de sua vida prática, as ordenações então recebidas, as quais poderão levá-lo até mesmo ao crime e ao suicídio.

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Yvonne alerta quanto ao valor da oração e da vigilância, em especial antes do sono corporal, que protegerá o médium de assédios perturbadores.

Como a morte não encerra a existência do ser, após os momentos que se sucedem à desencarnação, e a natural perturbação do período pós-desencarnatório ser superada, o Espírito retoma à sua antiga personalidade, voltando a atenção para temas que lhe foram objeto de interesse e de preocupação. Buscará os ambientes de sua predileção e as companhias que compartilham seus gostos.

Os Espíritos que já compreendem o valor do progresso, do perdão, do trabalho, da caridade seguirão na ascese que os conduzirá a planos elevados da vida. Os que mantiverem o foco nos desejos materiais, na vingança, no egoísmo, no apego, no ciúme, no vício encontram acolhida junto a encarnados da mesma tendência, passando ambos, a alimentarem-se de fluidos deletérios, corruptores dos sentidos. Assim, devemos estar atentos à influência espiritual negativa, que pode conduzir inúmeras pessoas às quedas morais quando, invigilantemente, se deixarem guiar por pensamentos perniciosos.

2. Fenômenos mediúnicos

Para uma manifestação ser inteligente, não é preciso que seja eloquente, espirituosa ou sábia. Basta que prove ser um ato livre e voluntário
A atuação dos Espíritos no plano material não se limita às interferências psíquicas. Pode ser tangível, como nos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos (aparições, transporte de objetos, materializações, curas espirituais, etc.) e nos de efeitos intelectuais, entre outros, psicofonia, psicografia, vidência, pinturas mediúnicas.

Em O livro dos médiuns, o Codificador analisa a ação dos Espíritos no plano material, afirmando que o perispírito exerce papel fundamental na ocorrência dos fenômenos mediúnicos:

[...] O Espírito precisa, pois, de matéria, para atuar sobre a matéria. Tem por instrumento direto de sua ação o perispírito, como o homem tem o corpo. Ora, o perispírito é matéria [...]. Depois, serve-lhe também de agente intermediário o fluido universal, espécie de veículo sobre o qual ele atua, como nós atuamos sobre o ar para obter determinados efeitos, por meio da dilatação, da compressão, da propulsão, ou das vibrações. Considerada dessa maneira, facilmente se concebe a ação do Espírito sobre a matéria.

Os movimentos e suspensão de objetos, os ruídos, e outros fenômenos mediúnicos de natureza física, ocorrem pela ação dos Espíritos que combinam, segundo a vontade deles, o fluido universal com o fluido que é liberado pelo médium. Esta manipulação se dá pela ação do pensamento, que dá impulso ou modifica a natureza dos fluidos. Os Espíritos que se dedicam à produção dos fenômenos mencionados são sempre de ordem inferior, ainda sujeitos à influência da matéria, segundo O livro dos médiuns.

Quanto aos fenômenos de efeitos intelectuais, afirma Allan Kardec: “Para uma manifestação ser inteligente, não é preciso que seja eloquente, espirituosa ou sábia. Basta que prove ser um ato livre e voluntário, exprimindo uma intenção ou correspondendo a um pensamento.” As manifestações mediúnicas não se ocupam desse tipo de evento, mas, se for necessário atuarem diretamente sobre a matéria, se utilizarão daqueles Espíritos aptos a tal atividade, que colaborarão de bom grado.

Os Espíritos superioresiinteligentes apresentam enorme variedade de tipos e subtipos, estudados em O livro dos médiuns, na segunda parte, capítulo III e VI, e capítulos X ao XVII, especificamente. A ocorrência de tais manifestações exige um certo grau de elaboração mental e o médium funciona como um intérprete, esclarecem os Espíritos orientadores.

O Espírito do médium é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve para falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se comunicam, como é preciso um fio elétrico para transmitir uma notícia a grande distância, desde que haja, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente que receba e transmita.

3. Fenômenos da Natureza


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A ação dos Espíritos no plano físico se estende além da mediunidade. Consta em O Livro dos Espíritos que, cumprindo os desígnios de Deus, incontáveis entidades esclarecidas se associam a Espíritos de diferentes graus evolutivos para garantirem a harmonia e o equilíbrio das forças que regem o Planeta. Percebem-se, então, que os eventos geológicos catalogados como naturais — ou seja, não provocados pela ação lesiva do homem — são acompanhados de perto por Espíritos benfeitores, a fim de que as transformações intrínsecas e reações dos elementos materiais da natureza não coloquem em risco a vida planetária.

André Luiz registra elucidativo comentário do orientador espiritual Aniceto, no livro Os mensageiros, a propósito da ação dos Espíritos na natureza:

— O reino vegetal possui cooperadores numerosos. Vocês, possivelmente, ignoram que muitos irmãos se preparam para o mérito de nova encarnação no mundo, prestando serviço aos reinos inferiores. O trabalho com o Senhor é uma escola viva, em toda parte.

Considerada a natureza como fonte primária da vida, ela deve merecer toda atenção, respeito e preservação. Não se deve inferir, contudo, que a ação dos Espíritos na natureza esteja relacionada aos conceitos da mitologia que pregavam a existência de “deuses” encarregados das chuvas, dos ventos, da colheita, etc., ou que tais Espíritos constituam uma categoria à parte na obra da Criação. Na verdade, são Espíritos que, comprometidos com este gênero de atividade humana, já renasceram anteriormente e voltarão, por certo, a reencarnar na Terra, em missão ou em trabalho corriqueiro.

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Verifica-se, dessa forma, que a participação dos Espíritos no plano material é efetiva e preponderante tendo em vista o progresso do homem. Todavia, a ação espiritual está, necessariamente, vinculada aos processos de sintonia esta- belecidos entre desencarnados e encarnados. Cabe, pois, a cada um observar e escolher o tipo de companhia espiritual que deseja. Os bons Espíritos se fazem presentes na vida cotidiana, embora nem sempre os encarnados lhes acolham as sugestões elevadas. Segundo o Codificador, seria esse o motivo da maioria das ocorrências infelizes que o ser humano sofre.


Marta Antunes de Moura é vice-presidente da Federação Espírita Brasileira

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