Muitas pessoas que se separam de seus entes queridos e nutrem algum sentimento de fé na espiritualidade, seja acreditando, tendo esperança ou a mais leve impressão de que a alma não morre com o corpo físico, sentem curiosidade sobre o estado em que eles se encontram após partirem. É comum, natural, pois a saudade, o amor e os elos de afinidade que havia entre si permanecem e, às vezes, até se intensificam.
Talvez por causa de nossa convivência mais próxima e mais antiga com a filosofia espírita, alguns amigos que se encontram saudosos, ou mesmo angustiados, inconformados, externam vontade de saber “notícias” dos queridos ausentes.
A tendência mais comum é a de imaginar onde estão, como se sentem, o que fazem, tendo como parâmetros a mesma ambiência e situação em que viveram, eles e nós. Mas, sem considerar que tudo lá é diferente. As referências de espaço e tempo são inteiramente distintas no mundo dos espíritos. Lá as percepções e deslocamentos são instantâneas, pois já não sentem o peso do corpo e nem necessitam de órgãos físicos para mover-se ou canalizar os sentidos. A visão, a audição, o olfato e demais virtudes sensoriais se fundem em um só canal que usa como meio de interação apenas o pensamento - força de comunicação integral e preponderante no campo magnético que permeia os plano astrais. Tudo é cristalino, sem máscaras, sem os subterfúgios da hipocrisia. Lá o orgulho e a vaidade se desfazem perante a real nobreza do mais sublime atributo: o amor.
Se aqui mesmo, na terra, em uma simples alternância dos meios de vida, seja no fundo do mar, na elevada atmosfera, no mundo subterrâneo, ou no ambiente microscópico, todas as condições de comunicação e percepção mudam completamente, imaginem em um universo de ondas e frequências sutis.
Obviamente é difícil supor ou entender com clareza a situação dos espíritos se tomarmos como parâmetros a nossa limitada capacidade de avaliação. Sob visão circunscrita aos contornos da vida material, a depender dos meios orgânicos e biológicos para sentir, perceber, e raciocinar, jamais vislumbraríamos a dimensão espiritual em sua magnitude. É como imaginar que uma larva habitante das profundezas escuras da terra pudesse experimentar a visão que aves migratórias desfrutam em seus voos acimas das nuvens.
Entretanto, o que aceitamos como verdadeiro neste campo de entendimento vem dos amplos estudos empenhados no terreno da metapsíquica, da mediunidade, da parapsicologia e das comunicações que os espíritos têm estabelecido com médiuns e pesquisadores ao longo de quase 200 anos. Desde a metade do século XIX, quando a sociedade de então se conturbou perante os fenômenos que se exacerbaram pelo mundo, alguns conhecidos como mesas girantes (Paris), o caso das “Irmãs Fox” em Hydesville (EUA), as sessões mediúnicas conduzidas por John Beattie (Bristol), as pesquisas do físico e matemático Sir Oliver Lodge (Londres), até as experiências com a fotografia Kirlian, na Rússia, e tantos outros experimentos e revelações científicas. Fenômenos que de tão intrínsecos à natureza humana fizeram a Organização Mundial de Saúde incluir em seu “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” uma subcategoria específica denominada “problemas espirituais ou religiosos”, que se referem a situações não exatamente de origem orgânico-patológicas.
O mundo espiritual e a vida após a morte são assuntos que extrapolam a filosofia espírita codificada pelo educador francês Allan Kardec, em 1857. Outros filósofos, físicos, matemáticos, astrônomos e especialistas de diversas partes do mundo se dedicaram a pesquisar o que se julga sobrenatural, com embasamento científico. O inglês Oliver Joseph Lodge, veemente defensor da existência do espírito, entregou-se à investigação sobre telepatia e fenômenos físicos, aprofundando-se ainda mais após a morte de seu filho, na Primeira Grande Guerra. Visitou, entrevistou vários médiuns renomados e escreveu mais de 40 livros sobre a vida , propriedades do éter, a Relatividade e a Teoria Eletromagnética. Entre suas obras, destaca-se o livro que se tornou best-seller, "Raymond, uma prova da existência da alma", em 1916.
Neste segmento da ciência, talvez devamos dar mais ênfase ao emérito químico e físico inglês William Crookes (1832-1919), considerado um dos maiores em sua área. Ele foi o primeiro a isolar os elementos químicos Tálio e Hélio, e quem descobriu os raios catódicos. Tais descobertas levaram-no a afirmar que a matéria possui um quarto estado, o “radiante”. Sua mais impactante revelação, entretanto, originou-se das intensas pesquisas sobre a espiritualidade. Inicialmente, ele teve o intuito de desmascarar as experiências mediúnicas da época, que julgava um engodo. Mas, por meio de investigações práticas, com ajuda da médium Florence Cook, convenceu-se da existência da vida após a morte quando obteve incríveis materializações plasmáticas de um espírito que se apresentava como Katie King, fato que surpreendeu o mundo científico. Crookes recebeu da Rainha Vitória o título de “Cavaleiro”, o mais alto do país, e chegou a ocupar a presidência da Sociedade de Química, como também da Sociedade Britânica, da Sociedade de Investigações Psíquicas e do Instituto de Engenheiros Eletricistas da Inglaterra.
Algumas pessoas têm o dom de pressentir vibrações, mensagens e emoções dos planos espirituaisAlém do que se origina do estudo sério, havemos de considerar as verdades reveladas há muito tempo pela sabedoria e conhecimento, empírico ou filosófico, desde a época dos ritos tribais primitivos, dos druidas, alquimistas, templários, das criações mitológicas, artísticas, literárias até as novas descobertas científicas e mediúnicas que produziram obras incontestáveis. Temos que ressaltar, também, o que aflorou da reflexão e da inspiração humanas, fruto da mediunidade intuitiva, o mais elevado nível de comunicação transcendente.
Ou seja, a curiosidade e as considerações sobre a perpetuação do espírito após a morte física surgiram com a faculdade de pensar, observar, contemplar e intuir. São tão antigas quanto as dúvidas e incertezas que persistem e aumentam quando se busca entender o fenômeno sem o necessário auxílio da contribuição que nos foi legada pelas sagradas escrituras, pelas profecias, nas célebres revelações e obras produzidas pelos mestres iluminados ao longo da História.
No âmbito pessoal, quem nunca experimentou alguma “presença” por meios extrassensoriais, um sonho premonitório, um desdobramento capaz de nos projetar além da consciência ou do corpo físico, um sinal intuitivo, um conselho que veio de uma voz amiga, inaudível e invisível? Ou alguma informação de uma pessoa querida, que já está no outro lado, por meio de amigos espíritas que tiveram o privilégio de recebê-las em vias mediúnicas de maneira impressionante? Privilégio, sim, pois não são fatos corriqueiros, facilmente acessíveis, sobretudo aqueles realizados com a devida seriedade.
E são inúmeros os relatos de experimentos, testemunhos de pacientes que voltaram do coma profundo ou retornaram à vida material após breve ausência. Tudo revelando a existência em esferas paralelas.
Os planos espirituais de nosso planeta não são longínquos e distantes de nós. Permeiam a atmosfera e em níveis bem mais próximos do que imaginamos. A suposta distância ou dificuldade de comunicação é apenas uma questão de sintonia. Algumas pessoas têm o dom de captar suas vibrações, mensagens e emoções, como antenas que captam frequências moduladas. E as condições propícias são raras e vulneráveis pela própria influência conturbada da vida terrena.
Contudo, aos que se interessam e buscam informações dos planos espirituais, é preciso entender que eles se estabelecem em vários níveis e padrões vibratórios. Quanto mais elevados, mais leves e depurados, conforme o nível evolutivo dos espíritos de cada “mundo”. As paisagens são concebidas por projeções mentais, captadas e vivenciadas por todos. Sua beleza se configura de acordo com o nível de sentimentos de seus “habitantes”. Quanto mais apurados os sentimentos, mais agradáveis as paisagens, por vezes superiores aos fascinantes cenários de nosso belo planeta.
As coisas acontecem como a física demonstra em seu campo de conhecimento: sob as leis do magnetismo. Afinidade é magnetismo. Tudo é energia no universo; que se atrai ou se opõe segundo leis sob as quais o Cosmo existe. E nessa energia os espíritos se incluem, evoluindo, como tudo evolui, desde a formação dos astros à atual geração humana, com todos os erros e acertos, em permanentes transformações, as quais fazem o Universo explodir ou se desintegrar para a criação de novos planetas e galáxias, no grande movimento pulsante que caracteriza a sua própria “respiração”.
São estes fenômenos que em menor ou maior escala emergem à nossa consciência justamente quando chega o fatídico instante de nos separar de quem amamos. É quando nos lançamos ao espanto do desconhecido com o encanto do que se conhece. Pois a vida cotidiana embota-nos a visão, fazendo-nos supor que o tempo corre lento, e assim nos distanciamos da inexorável realidade do destino que nos reserva, cedo ou tarde, o momento de encarar o que a vida material tem de mais preciso: o fim. Ou quiçá, o recomeço.
Então chega o dia de pensar na “outra vida”, em como estaremos e como se encontram os que daqui se foram... A imaginação se revolve na curiosidade incerta sobre o que lemos, aprendemos, escutamos, sem nos dar certeza alguma. E enquanto buscarmos entender o mundo de lá com os olhos de cá, nenhuma imagem parecerá lógica se concebida apenas por nossos pobres cinco sentidos. Porque da mesma maneira em que a gravidade, a atmosfera, as condições macro e microscópica, e até os conceitos geométricos variam com o meio que estão inseridos, o espaço e o tempo no mundo espiritual têm dimensão impossível de ser medida pelo que aprendemos ou entendemos. Talvez seja por isso que até hoje não se encontrou, e talvez nunca se encontrarão as formas de vida extraterrestre que a Ciência busca com os olhos dos homens.
Mas elas existem e estão lá. Nas camadas infinitas, entre planos e níveis de ondas e frequências sutis, imperceptíveis aos instrumentos mais potentes já inventados.
Assim, sem esquecer do infinito universo, desde o nível subatômico aos inexplorados espaços galáticos, voltemos o olhar para o nosso pequeno planeta, fragmento de explosão que se amoldou aos céus circundantes, às fenomenais mutações que produziram vida em várias eras e formas e continua se transmutando por meio da reencarnação. Vidas que vieram e se foram, gerações que chegaram e partiram, todas deixando suas marcas, seus ensinamentos, sua arte, suas obras, traçando seus rumos, colhendo os frutos do que semearam e as consequências de seus atos, em eras sucessivas, regidas sob perfeitas leis, físicas e naturais.
É justamente por este turbilhão de transformações, à luz da Lei de Causa e Efeito, refletidas e abrigadas na Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas, que se deve entender o que é reencarnação. Nada mais do que os ciclos naturais de ida e vinda do Princípio Vital que faz nascer e renascer todos os seres, de todas as espécies. Inclusive nossos entes amados que provisoriamente se ausentaram, ocultos aos nossos olhos, mas visíveis e sintonizados entre si, porque vibram na mesma frequência.
E não adianta imaginar que eles estão vivendo a mesma vida que vivemos. Não. A vida espiritual acontece em dimensões que jamais conseguiremos compreender com exatidão que satisfaça a lógica de nossos anseios imediatistas. Anseios que nos fazem esquecer de que o corpo começa a morrer no momento em que nasce, sem perceber, mesmo depois de velhos, que somos espírito e matéria, alternando-nos em ciclos que se renovam, imortais como tudo o que sempre existiu.
Afinal, nascer, morrer, renascer ainda, e progredir sempre, será, como sempre foi, a Lei de Deus.
Germano Romero é arquiteto e bacharel em música