Sempre questionei o porque da palavra “saudade” não ter equivalente em nenhum outro idioma. Será que esse é um sentimento único dos brasileiros? Claro que não! Todo ser humano, seja qual for a nacionalidade, sente saudade.
São momentos na vida em que pensamos que o tempo parou, ou queremos que ele faça voltar os ponteiros do relógio e a contagem nos dias do nosso calendário. O nó na garganta se faz intenso. A vontade imensa de reviver o que a nossa memória guardou como agradável, prazeroso, inesquecível. Nossa alma querendo retornar ao passado. Quando sentimos saudades de alguém ou de algo que aconteceu, é que nos damos conta da importância daquela pessoa ou daquela ocorrência de outrora.
A saudade é um sentimento teimoso, ele insiste em dominar nossas emoções, mesmo quando queremos fugir de nossas lembranças. Ocorre que no cotidiano nos deparamos com situações que nos remetem a recordações impossíveis de serem evitadas. Uma foto antiga, um cheiro conhecido, uma paisagem que se fez cenário de algo no passado, uma música que marcou uma relação, provocam no coração uma certa nostalgia. Bate uma melancolia, a necessidade de se preencher um vazio no peito. A sensação de que o motivo da saudade está presente no pensamento, longe dos olhos, mas firme no coração.
A saudade nos faz viajar no tempo, sonhar com a possibilidade de reencontros. Lógico que toda saudade dói, mas algumas provocam uma ansiedade gostosa, uma expectativa cheia de vontade de viver. É quando sabemos que a saudade sentida vai ter fim. A tristeza temporária, que sentimos naquele instante, tem previsão de se acabar. É o lado bom da saudade. Quando abraçamos as boas lembranças, na expectativa de que elas se repetirão.
A saudade que causa uma dor maior é aquela que nos faz ter a certeza de que nada voltará a ser como antes, como diz Lulu Santos em uma de suas canções: “nada do que foi será do jeito que já foi um dia”. Chegamos a pensar que a vida perdeu o sentido, como se nada mais pudesse substituir a ausência sentida.
E os olhos deixam transparecer a imensa dor sentida no peito, transbordando em lágrimas. O coração se declarando. A saudade pode até ser eterna, mas é menos dolorosa à medida que o tempo passa. Melhor chorar por saudade, do que olhar para o passado e nada sentir.
No cancioneiro popular brasileiro encontramos muitos versos inspirados nesse sentimento. Eis alguns:
“Não vou poder calar o meu coração
E essa saudade vem mansinha
Querendo me avisar
Acho que a gente é que é feliz”
E essa saudade vem mansinha
Querendo me avisar
Acho que a gente é que é feliz”
Hoje / Renato Russo
“Faz tempo que eu não te vejo
Quero matar meu desejo
Te mando um monte de beijo
Ai, que saudade sem fim”
Quero matar meu desejo
Te mando um monte de beijo
Ai, que saudade sem fim”
Saudade de Ocê / Vital Farias
“A saudade é dor pungente, morena
A saudade mata a gente”
A saudade mata a gente”
A Saudade Mata a Gente / Braguinha e Antônio Almeida
“Tô com sintomas de saudade
Estou pensando em você
Como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você”
Estou pensando em você
Como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você”
Sintoma de Saudade / Mariza Monte
“Saudade mal de amor
Saudade dor que dói mais
Vem meu amor
Bandeira branca, eu quero paz”
Saudade dor que dói mais
Vem meu amor
Bandeira branca, eu quero paz”
Bandeira Branca / Max Nunes e Laercio Alves
“Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza
E a melancolia que não sai de mim”
A realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza
E a melancolia que não sai de mim”
Chega de Saudade / Tom Jobim e V. de Moraes
“Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo um sorriso sincero, um abraço
Para aliviar meu cansaço e toda essa minha vontade”
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo um sorriso sincero, um abraço
Para aliviar meu cansaço e toda essa minha vontade”
De Volta pro Aconchego / Dominguinhos e Nando Cordel
“E por falar em saudade, onde anda você?
Onde andam seus olhos que a gente não vê?
Onde anda esse corpo que me deixou morto
De tanto prazer?”
Onde andam seus olhos que a gente não vê?
Onde anda esse corpo que me deixou morto
De tanto prazer?”
Onde Anda Você / V. de Moraes e Armando Silva
“Ai quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz roer
E amarga qui nem jiló”
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz roer
E amarga qui nem jiló”
Qui Nem Jiló / Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
Rui Leitão é jornalista e escritor