A imagem é pujante na contemporaneidade. É que o advento da Fotografia, por exemplo, mudou toda concepção de mundo, ou de vida, expressas na Poesia e na Literatura. A essa constatação, atribuo a precisão da imagem.
Uma descrição sobre um acontecimento pode levar páginas inteiras e cansar o leitor. A concisão fotográfica do mesmo fato leva segundos para a decodificação e apreensão.
Não é à toa que admiro as músicas de Caetano Veloso que, na juventude, antes de ser famoso, era fascinado pelo Cinema e tem grande influência de Glauber Rocha. Suas composições são precisas semelhantes a uma bem elaborada propaganda, destas produzidas pelo gênio de Washington Olivetto.
Quando observo as fotos do Fotógrafo paraibano Antonio David Diniz, com 50 anos de batente, chego ao dilema de não saber se são imagens poéticas ou se trata de uma poética da imagem. Fico tão extasiado que já cheguei a sugerir a este portal introduzir, uma vez por semana, os denominados poemas/imagens ou imagens/poemas de David.
Com uma exuberante experiência, como Fotojornalista, Antonio David aprendeu a olhar o mundo da forma como Sartre, Heidegger ou Merleau Ponty descreveram a prosa do mundo.
Intuitivamente desenvolveu uma sensibilidade que se expressa de forma fenomenológica em fotos que resgatam a ontologia do ser social, num momento de supino desprezo pelo ser humano.
É impossível não reagir às fotos deste extraordinário artífice da Fotografia que transformam o cotidiano em poesia ou percebe a poesia do cotidiano como forma de resgate de humanismo perdido e trocado por um consumismo que reduz o ser à esfera de mercadoria descartável.
Lamentavelmente a Paraíba não tem a cultura necessária, não se sabe a razão, para abrir maiores espaços para a Fotografia de David. David necessita espaço num momento em que vem produzindo, como que compulsivamente, obras da maior relevância.
Particularmente não admito que uma obra tão relevante, a mais relevante obra fotográfica da atualidade na Paraíba, seja desprezada e esquecida como fecunda produção do saudoso Machado Bittencourt, já esquecido, inclusive, pela Academia.
David tem muito fôlego e está no auge da sua capacidade produtiva. É necessário que os contingentes e efêmeros detentores do poder vislumbrem a importância da memória do contexto social, econômico e político retratado por David, o apoiem, lembrando que os cargos são transitórios e ilusórios. A obra de Antonio David, não! Esta será o retrato inexorável e imperecível da mediocridade, da empáfia e do orgulho de podres poderes cujo crepúsculo, conforme tem mostrado a História, rebenta nas enxovias, nas penitenciárias e nas prisões da alma carcomida pela vergonha e pelo remorso.
Josinaldo Malaquias é pós-doutor em direito, doutor em sociologia e jornalista