As chuvas e as cheias do Rio Paraíba foram descritas com ênfase por José Lins do Rego. As águas que arrastavam tudo, também conduziam levas...

Tempo bonito para chover

jose nunes cariri sertao chuva rio paraiba ambiente de leitura carlos romero

As chuvas e as cheias do Rio Paraíba foram descritas com ênfase por José Lins do Rego. As águas que arrastavam tudo, também conduziam levas de homens a jogar na terra os grãos de esperanças, no plantio e na colheita que ele colocou nas suas narrativas com muita emoção.

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As águas do Rio Paraíba não são mais claras que as águas dos rios de minha terra, onde as piabas crescem sem que as pessoas percebam. Os rios Pinturas, Jacaré e o Araçagi-mirim fornecem suas margens úmidas para que sejam colocados os grãos que brotam sem as invernadas.

Pode até demorar, mas as águas de março quando chegam fazem transbordar açudes e perenizar riachos, umedecendo a terra onde são colocados os grãos para a produção que saciará a fome. Esperadas com ansiedade, as chuvas partiram do Sertão, passaram pelo Cariri espalhando esperanças até chegar ao Brejo e Litoral, abrindo sorrisos no caboclo que ainda se dispõe cultivar na terra.

Os rios e açudes do Sertão esborrataram, com as lâminas de água cobrindo as ribanceiras de lado a lado, um belo espetáculo, mas são os riachos e córregos de minha terra que emocionam muito mais porque correm lentos, pedindo espaços para penetrar na terra, esperando os grãos que ali sejam depositados. Se na região do Brejo as serras e enseadas estão com a paisagem que parece um tapete verde.

Retorno do Cariri com a certeza de que a Paraíba terá milho e feijão em fartura, apesar de poucos roçados. Há ausência do braço disponível para trabalhar a terra, porque muitos fugiram para as pontas das ruas, satisfeitos com as migalhas recebidas do governo, que mais humilha do que liberta.

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As plantações que observaram os meus olhos são menores que as de antes, do tempo da minha infância quando corríamos dentro do milharal. Mas as chuvas têm sido generosas, e quem plantou, vai encher a panela que aguarda vazia na trempe esfumaçada.

Na festa das águas, na silenciosa germinação dos grãos e da colheita, percorro com os olhos silenciosos para melhor observar o homem plantando nas terras do Cariri entre Prata e Sumé, enquanto cruzamos riachos e alagadiços verdejantes. O cheiro de terra brota das raízes da vegetação adormecida, nos acompanha até chegar a Serraria, com seus riachos esborratando com a água que desce dos cocurutos das serras.

A literatura de José Lins redobra minha a saudade dos dias chuvosos no sítio Tapuio, quando o aguaceiro descendo pelas encostas para ensopar as planícies preparadas para o plantio. Corríamos ao terreiro para tomar banho e na biqueira da casa com as mãos aparava a água para beber.

A água que escorregava pelos seixos em um rego onde banhava meus pés, tinha uma música diferente a cada estação do ano. Dava-me vontade de nunca sair dali.

- O tempo está bonito para chover! Têm sido venturosos os dias, e logo se ganha chuva.


José Nunes é poeta, escritor e membro do IHGP

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