O Regent's Park foi um presente de reis. Jamais imaginei um espaço como aquele fora dos paraísos que já vi pintados e descritos, ou das utopias.

E dentro dos 166 hectares do Regent´s Park, no círculo chamado Queen Mary's Gardens – os Jardins da Rainha Mary - , demos com a excessiva beleza e o perfume de trinta mil rosas de quatrocentas variedades – cada uma com seu nome numa placa -, além de canteiros de flores de tão maravilhosa variação de cores, que me lembraram os distantes dias em que eu punha o amarelo de Nápoles, o azul da Prússia e o vermelhão chinês juntos na paleta, em tentativas inúteis de criar maravilhas iguais.

Agora, o Museu Britânico! Um imenso complexo de edifícios neoclássicos majestosos, centrados por um cilindro que me lembrou o tronco de Yggdrasil, a árvore do conhecimento das lendas escandinavas, com os ramos, lá em cima, servindo de caixilhos para os vidros do alto teto transparente que nos cobria a todos, no pátio extenso.
Passando no meio de uma multidão que dialogava com atores vestidos como legionários romanos e uma centúria de dançarinas dançando, tecelões e ceramistas do tempo do Imperador Adriano trabalhando, entramos numa série praticamente infinita de espaços.

Sendo o “British” o único museu londrino que permite filmagens e fotos, filmei – com minha pequena Sony - uma senhora lendo para outra a parte grega da Pedra da Roseta. Fiz um travelling longuíssimo do fabuloso friso em altos-relevos dos vívidos cavaleiros trazidos do Pártenon por Lord Elgin e fotografei cada fantástico fragmento do combate entre atenienses e centauros isolado nas paredes.
Ione posou para mim diante dos gigantescos touros alados de Khorsabad, dos esplêndidos baixos-relevos do palácio de Nínive, das enormes cabeças de Ramsés II e Amenófis III, dos sarcófagos soberbos vindos do Vale do Nilo, tudo – sempre – envolvido em puro êxtase!
W. J. Solha é dramaturgo, artista plástico e poeta