Na década de 60, João Pessoa possuía dois meios de transporte coletivo: o bonde e a marinete. Os principais bairros da cidade eram servidos por linhas regulares desses veículos de locomoção. O ponto central de partida e de chegada era a Praça Vidal de Negreiros, o Ponto de Cem Réis, hoje viaduto Damásio Franca, com cenário urbanístico totalmente diferente do que era na época.
Os bondes elétricos foram adotados em nossa Capital a partir do ano de 1913, um ano antes de Recife, por iniciativa do Presidente Castro Pinto, em substituição aos bondes puxados a burro. Nossos filhos e netos nem imaginam como eram esses veículos. Circulavam sobre trilhos, abertos, com bancos onde podiam ser acomodadas em torno de oito pessoas bem sentadas. Para facilitar a subida dos passageiros eram servidos de estribos em ambos os lados. Havia a figura do condutor, que tinha a responsabilidade de dar-lhe movimento e parada, e o cobrador que assumia o encargo de receber os valores correspondentes às passagens.
Nas paradas, enquanto esperávamos, descobrimos uma forma de saber quando o bonde estava se aproximando.Eu e minha mãe éramos usuários do bonde para irmos para o trabalho (isso até início dos anos setenta). Ela dirigindo-se ao prédio dos Correios, hoje Paço Municipal, onde exercia suas atividades de emprego. E eu em direção à matriz do Banco do Estado da Paraíba – BEP, depois PARAIBAN, instituição na qual comecei minha vida profissional.
Lembro-me que em dias de chuva havia sempre o risco de levarmos alguns leves choques. Nas paradas, enquanto esperávamos, descobrimos uma forma de saber quando o bonde estava se aproximando. Encostávamos o ouvido no poste e ouvíamos o barulho dele se aproximando. Nosso ponto de espera era na Avenida João da Mata, em frente a antiga Maternidade Frei Martinho, que deixou de existir. Achava interessante ver as pessoas saltarem do bonde ainda em movimento. Resolvi fazer a experiência e foi um desastre, me esborrachei no chão e machuquei os dois joelhos.
O outro tipo de transporte era a marinete. Até hoje nunca consegui descobrir o porquê desse nome. Mas eram carrocerias de automóvel, adaptadas em madeira, com capacidade para acomodar até 12 pessoas. Mais caros que os bondes, as marinetes eram preferidas pelos que tinham melhor condição financeira. Uma das vantagens para quem as usava era a inexistência de pontos de paradas estabelecidos. Paravam nos locais conforme a necessidade do passageiro. Anos mais tarde, as pequenas marinetes foram substituídas por outras importadas pelo empresário Neco do Roger, que ofereciam além de maior conforto, com bancos estofados, espaço para transportar até 20 passageiros.
Rui Leitão é jornalista e escritor