Nos acostumamos a ouvir a afirmação de que o amor e o ódio sempre andam juntos. Dois lados de uma mesma moeda. Há uma linha tênue que separa um do outro. Interessante perceber que tem muita gente que fala de amor com ódio no coração. Essas emoções conflitantes se encontram em todo ser humano. Nietzsche já afirmava que “O amor e o ódio não são cegos, mas cegados pelo fogo que levam por dentro”

A área cerebral que ativa o amor é exatamente a mesma que produz o ódio, segundo definição de cientistas. Ninguém odeia algo que não lhe pareça interessante. E faz isso porque não encontra as condições para amá-lo. O ódio também se alimenta do medo. O “ego” buscando se realizar através da destruição do “odiado”. Como se fosse uma opção que revela o instinto de sobrevivência, escolhida para a defesa dos seus próprios interesses, determinados por fatores circunstanciais.
O amor pode se transformar em ódio em questão de minutos, quando sufocado pelo rancor, a mágoa ou o desejo de vingança. Já o ódio tem maiores dificuldades em se transferir para a posição do amor. Porque quando o ódio se instala no inconsciente de alguém, ele se torna calculista, agressivo, com o senso crítico direcionado para a desforra, o ataque, a destruição de quem foi selecionado como seu alvo.

No universo da política as paixões explicam as atitudes de amor e de ódio pelos que decidem nela militar. São sentimentos que motivam xingamentos, esculachos, agressões, deslealdades, e, por outro lado, também ocasionam comportamentos de endeusamento, idolatria cega. Interessante como nesse campo o amor e o ódio próximos, dificultam entendimentos, a abertura do coração e da inteligência. E aí, lamentavelmente, se desrespeitam os conceitos da solidariedade, da igualdade e da democracia. Na política, adversários são transformados em inimigos. O ódio emburrece as pessoas. É coisa de alma pequena. O amor e o ódio, portanto, na política, criam manadas, turbas irracionais de teleguiados. Quando nos livraremos disso?
Rui Leitão é jornalista e escritor