Gosto da palavra “namorar”. É um dos verbos mais puros da língua portuguesa. Mesmo quando por eufemismo designa outra coisa (a ligação entre amantes, por exemplo), “namorar” sugere mais ternura do que desejo. É uma palavra tão embebida em frescor adolescente, que deveria ser proibida aos que se relacionam num nível mais avançado.

Namorado também não é ficante. O ficante é inimigo de quem ele beija ou apalpa numa intimidade destituída de preâmbulos e promessas. Quer o prazer imediato, e não apenas com um só. Quer a diversidade e o número. Quanto mais garotas ou garotos houver, melhor, já que nenhum deles conta mesmo por si. Os namorados, se pudessem, construiriam um mundo só para os dois.

Um dos problemas dos relacionamentos de hoje é que se namora pouco. Vivemos numa época objetiva, pragmática, em que ninguém quer perder tempo. Na pressa de atingir logo a meta, os parceiros se alheiam do que há de fascinante no percurso. O essencial do namoro não está no ponto de chegada, mas nas estratégias que levam a ele. É um caminho pontuado de temores e arrebatamentos, cujo sentido está mais em percorrê-lo do que em atingir o objetivo.

Mesmo porque o objetivo nunca é muito claro, já que os namorados vivem um tanto perdidos um no outro. Faz parte do processo ver o parceiro como enigma e espera.

Sei que estou romantizando, mas não existe namoro sem romantização. Por isso ele só acontece entre os que ainda não conhecem bem o mundo. Ou, se o conhecem, preferem ignorar-lhe a feiura e apostar no castelo de sonhos que (eles sabem) muito em breve virará saudade. A saudade dos namorados é a de um tempo em que eles eram outros, menos táticos e frios. E mais capazes de esperança na vida e no amor.
Chico Viana é doutor em teoria literária, professor e escritor