Ontem foi aniversário dele. Há noventa e sete anos, Carlos Romero desembarcava para mais uma jornada, desta vez em Alagoa Nova. Ninguém podia imaginar que aquele bebê, que só se demorou no brejo por 4 anos, se mudaria para a capital e depois voltaria, já com 30, casado com a bela Carmen, para exercer o cargo de juiz da cidade pacata, de clima bom, e de gente simpática. Seus pais, José Augusto e Maria Pia, já haviam deixado naquela terra os bons fluidos da ilibada conduta. Era meio caminho andado para o retorno do rebento.
Agora ele já habita, há pouco mais de um ano, as esferas espirituais, decerto ainda mais feliz, no paraíso das boas lembranças e com a energia necessária às atividades de sua permanente e inexorável evolução. Afinal, como pregou Kardec, o slogan “Nascer, viver, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a Lei”, estava sempre presente em suas crônicas, palestras e sobretudo nas suas mais fortes convicções.
Nada é mais benéfico a um espírito desencarnado há pouco tempo do que a paz de uma consciência limpa, sob os efeitos do amor que brota de sua semeadura. Sentir que seus entes queridos, amigos, confrades e familiares acreditam convictamente que sua vida continua em outro plano, lhe proporciona um bem enorme e mantém firme a sintonia.
Assim como nada é tão doloroso para quem desencarnou do que carregar a culpa, o remorso e a consciência pesada do arrependimento pelo mal feito e do bem não feito. A sensação da oportunidade perdida, da chance que não volta mais, provoca-lhe um vazio angustiante. Em vida terrena, pode-se até encontrar uma maneira de se refazer, de se reconquistar, de se perdoar, mas, depois do desenlace, a reconstrução das oportunidades vai demorar e depender do merecimento, das forças do magnetismo que sintoniza as afinidades para o novo caminho a ser trilhado. Por isso, a recomendação: “reconcilia-te com teu irmão enquanto estás a caminho com ele”, feita pelo Cristo.
Mas, a lembrança mantida viva, sobretudo das virtudes e momentos de valor verdadeiramente sublimes, são tão saudáveis a quem partiu quanto a quem ainda está por aqui. Assim como a saudade angustiada, a revolta contra o destino, a falta de compreensão das leis cármicas, a desesperança e a distância da boa conduta muito perturbam os que se encontram no plano espiritual e conservam vínculos afetivos com os amados encarnados.
É só lembrar do rico que viveu uma vida fútil e farta, afastado dos valores espirituais, da caridade e da solidariedade, e, quando desencarnou, defrontou-se com a verdadeira vida após a morte, arrependeu-se e condoeu-se ao ver que os seus amados familiares permaneciam na mesma vidinha de antes, iludidos com a luxúria e a indiferença.
Em vão suplicou para que algum espírito fosse até eles para lhes advertir que mudassem de vida, antes que enfrentassem o mesmo arrependimento. Mas não lhes foi concedido tal benefício, já que tinham o conhecimento da Palavra e não escutavam. Está tudo lá, no Evangelho.
Muito diferente é a situação de quem deixa na Terra boas impressões, rastros do amor semeado por onde passou. É como se do solo terreno bem adubado brotassem, à distância, as flores do bem distribuído capazes de alcançar o espírito do benfazejo semeador com seu perfume e sua beleza.
É exatamente nesse estado, com as bênçãos do mérito próprio e do exemplo aqui deixado, que hoje vive o nosso amado pai.
E entre nós, mais vivo do que nunca!
Germano Romero é arquiteto e bacharel em música