O espetáculo é contínuo. Sempre há uma luz diferente, um mar rejuvenescido, uma poesia que voa com a paisagem. Rimas nas palhas dos coqueiros, raios que tocam e acariciam com tons dourados a barreira tão sofrida pela dança das marés e dos ventos e pelas agressões dos homens, o verde que surge e resiste ainda como um lençol de abrigo por trás do concreto represado graças à lei inteligente. Dos mais belos recantos de João Pessoa, a praia do Cabo Branco é um presente para cada morador e visitante da cidade.
No amanhecer, recebe os primeiros raios do Sol que avisa às Américas durante boa parte do ano que um novo dia chegou. A faixa de areia branca em momentos de calmaria durante a semana é um convite para a contemplação. E as linhas do coqueiral, a calçadinha, o movimento das pessoas são balés diários. Mais ao extremo, a vigilância constante da falésia que faz uma curva ao beijar as águas do mar é um marco da identidade da cidade.
No fim de tarde, no trecho próximo à subida para a Ponta do Seixas, o por do Sol cria novas fantasias de luzes. Tons de azuis e amarelos do encontro dia/noite se entrelaçam aos verdes escuros do mar e brancos da espuma das ondas que quebram com força em um canto estridente junto à mureta durante as marés mais altas. E por ali mesmo durante o dia com a maré baixa que as águas recuam e permitem que as pedras cravejadas de conchas formem pequenas piscinas e grandes telas, ofertam uma caminhada para pequenos bancos de areias ilhados pelas formações rochosas.
E se é Lua cheia, um novo quadro é pintado naquele trecho de mundo. A bola branca/amarelada a elevar-se da linha sólida do horizonte nas águas do Atlântico Sul.
Na divisa com Tambaú, a praia do Cabo Branco vira o palco perfeito para tantos encontros de pessoenses e visitantes. Seja à meia-noite ou ao meio-dia. Do nadar num mar sereno, no mergulhar e sentir as ondas calmas ou agitadas, aproveitar as delícias das águas mornas (em que pese a inaceitável presença de esgotos clandestinos que chegam ao mar pelas ligações inescrupulosas feitas por alguns moradores/comerciantes do lugar).
Mas, voltemos ao belo cenário urbano. Mesmo em dias de chuvas, quando está desértica, a praia do Cabo Branco é pura poesia. Lugar que atrai apaixonados. José Américo de Almeida a escolheu com uma morada estratégica onde podia se deleitar com o mar e uma visão privilegiada. E o escriba Ascendino Leite, sentado numa cadeira de balanço na areia, a observar e ouvir o diálogo das águas com a areia? E o que dizer das múltiplas visões da barreira através das saudosas pinceladas de Hermano José? Enamorados pela sua beleza.
E a cada reencontro com o Cabo Branco um sorriso, um olhar de admiração, um rever-se de outras épocas.
Clóvis Roberto é jornalista e cronista