Acalanto
Por força do destino tornei-me tecelã,
Mas não reclamo.
Exerço meu ofício e amo.
Como acalanto de cada manhã,
Misturar traços, linhas e matizes,
Para alegrar-me na terra
E sonhar com a beleza da tapeçaria
Que eu gostaria tanto de tecer,
Para Ulisses poder voltar da guerra.
Intangível
Porque mais nada cabe no instante
Não direi palavra
Nenhum gesto farei.
Tudo se cumpriu
Sem erro
Na exata medida
No desvão do não ser.
Nem cedo nem tarde
Nem morte nem vida.
Intruso
Então vens povoar o meu silêncio,
Rouxinol intruso,
Profanando um instante tão sagrado,
Tentando me envolver com doces ritos
Quando meu despertar é apenas grito
De um refrão saturado.
Teu canto insiste belo, em notas claras
Rasga o véu das manhãs,
Invade meu jardim
Porque não sabes o que há atrás das portas
Objetos, lembranças, coisas mortas
Que só vivem em mim.
Depois dessa noite
Depois dessa noite
É hora da grande hemostasia
Não mais sangrar...
Desprezar questões sem respostas
Falsos espelhos, réstias de luz fugidias...
Urge lavar o lodo acumulado
Mover as pedras, tanger as trevas
Banir a opacidade.
Nada de abraços gessados, verbos espessos
Discursos insustentáveis
Gestos ásperos.
Ter sempre em mente a magia da lua
Que se ergue da minguante
Pacientemente, até tornar-se plena.
Trocar o frio da inércia
Pelo calor da ação mais vigorosa
E cada vez mais, evitar as águas turvas
É nova aurora! Novas cores, novos ares.
Voar bem alto na cordilheira dos sonhos
E sobretudo amar, amar sem conta, amar...
Por força do destino tornei-me tecelã,
Mas não reclamo.
Exerço meu ofício e amo.
Como acalanto de cada manhã,
Misturar traços, linhas e matizes,
Para alegrar-me na terra
E sonhar com a beleza da tapeçaria
Que eu gostaria tanto de tecer,
Para Ulisses poder voltar da guerra.
Intangível
Porque mais nada cabe no instante
Não direi palavra
Nenhum gesto farei.
Tudo se cumpriu
Sem erro
Na exata medida
No desvão do não ser.
Nem cedo nem tarde
Nem morte nem vida.
Intruso
Então vens povoar o meu silêncio,
Rouxinol intruso,
Profanando um instante tão sagrado,
Tentando me envolver com doces ritos
Quando meu despertar é apenas grito
De um refrão saturado.
Teu canto insiste belo, em notas claras
Rasga o véu das manhãs,
Invade meu jardim
Porque não sabes o que há atrás das portas
Objetos, lembranças, coisas mortas
Que só vivem em mim.
Depois dessa noite
Depois dessa noite
É hora da grande hemostasia
Não mais sangrar...
Desprezar questões sem respostas
Falsos espelhos, réstias de luz fugidias...
Urge lavar o lodo acumulado
Mover as pedras, tanger as trevas
Banir a opacidade.
Nada de abraços gessados, verbos espessos
Discursos insustentáveis
Gestos ásperos.
Ter sempre em mente a magia da lua
Que se ergue da minguante
Pacientemente, até tornar-se plena.
Trocar o frio da inércia
Pelo calor da ação mais vigorosa
E cada vez mais, evitar as águas turvas
É nova aurora! Novas cores, novos ares.
Voar bem alto na cordilheira dos sonhos
E sobretudo amar, amar sem conta, amar...
Milfa Valério é professora e poetisa