Saiu na mídia a informação de que os generais do governo Bolsonaro passaram a sugerir a recomposição da equipe com um ministério de notáveis. Será que resolve?
O mais notável dos ministérios republicanos, ganhando para o de Rodrigues Alves, quase todo de presidenciáveis, foi o de Goulart, há quase sessenta anos. Para não lembrar todos, fiquemos com alguns cujos nomes ainda devem ressoar nalguma memória: Tancredo Neves, Darcy Ribeiro, Evandro Lins e Silva, Hermes Lima, José Ermírio de Morais, Abelardo Jurema, Carvalho Pinto, Celso Furtado, entrando de quebra Anísio Teixeira e Paulo Freire. Todos levaram um nome já feito.
Não eram só notáveis, como respeitáveis, incorruptíveis. E o que foi que os generais da ativa fizeram com Goulart e com eles? Quem não foi preso foi exilado.
Digamos que Bolsonaro acate a receita. Então, esperemos os notáveis destes novos tempos. Quem são eles, onde estão?
Enquanto não se acha, fiquemos com um achado, fora do bordado, de Ariano Suassuna, numa das revistas do nosso Instituto Histórico, a de número 18. Ariano levanta a palma da melhor literatura para esse arroubo de Alcides Carneiro. Espero que a crítica mais exigente não faça por menos. Confira o leitor:
“O Nordeste de bênçãos e maldições, de promessas e de ameaças; o Nordeste áspero e romântico, alegre e sombrio, doido e sisudo, rebelde e submisso, indolente e operoso; Nordeste dos verdes canaviais e das caatingas cinzentas; dos opilados grudados no chão, pedindo cova, e dos centauros de Euclides, vestidos de couro, trovejando na mata; Nordeste dos bandidos e trovadores, místicos e bandoleiros (...) Nordeste dos caminhos poentos, onde tantas vezes cruzaram os romeiros do Padre Cícero que iam rezar no Juazeiro e os cangaceiros de Antonio Silvino e Lampião que iam matar em qualquer parte; Nordeste do lendário luar das serenatas e das noites fechadas das emboscadas sinistras; Nordeste das secas e das inundações, o trovão estalando no alto, a palha benta estalando no fogo, o relâmpago cortando a nuvem pelo meio, os açudes arrombando; (...) Nordeste da labuta estrepitosa do eito, miseráveis a fabricar riqueza, a cair de inanição sobre a fartura, vendo com os olhos, comendo com a testa; eles de foice em cima da cana e a morte de foice em cima deles; pés descalços pisando rodilhas de cascavéis e a misericórdia divina se mostrando na saliva do curandeiro; bichos tratados como homens, homens tratados como bichos; bichos que descansam às vezes, homens que não descansam nunca.”
Não fui assíduo ouvinte dos discursos de Alcides. Dois deles, no entanto, dão mostra do seu prestígio como orador e homem culto: o de seu ingresso na Academia Paraibana de Letras, redescobrindo o poeta Pereira da Silva, e o discurso pronunciado na inauguração do museu de Epitácio, na entrada do Tribunal de Justiça.
Mas as coisas mudaram tanto! Os meios, os estilos, os valores. A vergonha. Anteontem demitiu-se um ministro da Educação que grafava impressionante com C e paralização do jeito que se vê aí. Mas não saiu por isso; e não terá sido difícil que, só por isso, tenha entrado.
Gonzaga Rodrigues é escritor e membro da APL