Nhô Augusto Matraga, depois de levar uma surra de largar o choco, apanhando mais do que mala velha para tirar o mofo, tendo sido ferrado, pulado de um barranco, dado como morto e cuidado por um casal estranho, recobra a consciência e decide que deve mudar de vida. O seu intuito com a mudança? Entrar no céu, nem que seja a porrete.

Nhô Augusto quer consertar o mundo, diz Vossenhoria. Não. Ele quer se consertar, para poder ficar em concerto. O que ele faz Vossência nem desconfia. Ele escolhe um caminho claro, sem as engabelações do palreado fácil e oco como junco de beira de rio. O caminho é claro, mas não é um passeio em pradaria verde, em época de primavera. É caminho difícil, pedregoso, escorregadio como chão de brejo, mas só depende de quem faz o caminho, de mais ninguém. Nessa rota, Nhô Augusto tomou apenas as trilhas necessárias: trabalhar muito, rezar, ajudar os outros e pouca ou nenhuma conversa.
Pois é, meu patrão, o trabalho mantém o corpo e a mente ocupados, não deixando o sujeito se desviar do prumo e faz ficar distante do palavrório que nada resolve. A vida é uma capina a ser laborada em dia de sol. A reza, se Vossenhoria acredita ou não, é um apoio para fortalecer a vontade e encaminhar o vivente na direção da ajuda do outro, com ele repartindo de amor o que possuir. Nada de mágoas, remorsos e culpas do passado.

Não, Sinhô, não mudamos o mundo, mas podemos tentar modificar a gente mesmo, e já é uma grande ajuda a esse mundão de meu Deus.
Milton Marques Júnior é doutor em letras, professor, escritor e membro da APL