Existem pessoas que não nasceram para viver no anonimato. Nem procuram ganhar notoriedade, destacam-se naturalmente por suas qualidades singulares, por serem diferentes, por se destacarem no que fazem. A característica maior é o amor com que abraçam o exercício de seus atributos.
Um bom exemplo desse fenômeno era o inspetor de trânsito Antônio Augusto da Silva, que viria a ser conhecido como “Apito de Ouro”, a partir de 1973 quando foi homenageado pelo delegado Marcilio Pio Chaves, ao receber, como símbolo do reconhecimento do extraordinário serviço prestado no controle do tráfego da cidade, um apito banhado a ouro.
Ex-pedreiro, desejou ser guarda rodoviário, sonho impossibilitado de realização em razão da sua pouca formação escolar. Ao chegar na Capital conseguiu se incorporar à Polícia Militar e, por definição do destino, foi convidado a exercer as funções de oficial de trânsito. Assumiu seu novo ofício com entusiasmo e extrema dedicação.
Nos seus trinta anos trabalhando nas ruas com a missão de organizar o trânsito, nunca aplicou uma multa sequer. Dizia que, antes de tudo, seu papel era de educador, orientar sem necessariamente punir. Impressionava a habilidade com que utilizava o apito e os braços para indicar aos transeuntes e motoristas como deveriam se conduzir no tráfego.
“Apito de Ouro” foi um ícone na educação do trânsito em João Pessoa, nas décadas de sessenta e setenta. Ganhou o respeito e a admiração, não só pela competência, mas também pela simpatia. Soube, como ninguém, fazer uso da fama sem se deixar influenciar pelo orgulho ou vaidade. Recebia os elogios com humildade, mesmo quando a homenagem vinha do seu chefe maior, o governador, que fez questão de manifestar publicamente o reconhecimento da eficiência do seu trabalho em favor da população.
Sua atuação nas ruas era um espetáculo à parte, um show. Merecia ser mais lembrado, para que servisse de exemplo aos que na atualidade têm a delicada incumbência de dar organização ao tráfego de nossa cidade. Fica aqui registrada a a minha reverência a esse profissional que honrou a farda que vestiu, tornando-se uma referência de disciplina, desvelo e responsabilidade na execução de suas tarefas.
Rui Leitão é jornalista e escritor