Graduado em Engenharia Agronômica, Mestre em Antropologia e Sociologia Rural pela UFPB e Doutor em Sociologia pela UFPE, Adriano de Léon é Professor Titular do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPB.
Com trabalho focado na defesa da diversidade humana e teoria dos gêneros, Adriano adota e defende uma escrita livre e sem regras, como ele mesmo define. É escritor, contista e colaborador do Ambiente de Leitura Carlos Romero. Seus contos possuem traços poéticos, são provocantes, estimulam à reflexão íntima e têm repercutido expressivamente entre os leitores, a exemplo dos mais recentes como “Muros e pontes”, “Isolados”, “Máscaras” e “Caneca rachada”.

Ambiente de Leitura Carlos Romero (ALCR): Pela qualidade e repercussão de seu textos, percebe-se sua indiscutível vocação para as letras. De onde, como e quando surgiu esta inclinação?
Adriano de León: Fui educado numa escola alemã, cuja plataforma de ensino era voltada para a formação de um cidadão pleno, com ênfase na cultura. Havia aulas regulares de leitura, de redação, além de uma biblioteca com mais de 5 mil volumes em português. Li Marcel Proust, Mark Twain, Franz Kafka, Jorge Amado e Guimarães Rosa. Além disso, crescer na cidade de Areia significa ser invadido pelo lema "terra da cultura", e ter o privilégio de participar dos festivais de arte da cidade. Minha geração respirou também a tropicália e uma geração de poetas malditos que, com suas invenções linguísticas, nos levava a ler e querer saber cada dia mais. Não sou, nem de longe, escritor. Sou um diletante, um ensaísta.
ALCR: Sua formação é, de certa forma, eclética, pois vem da agronomia, passa pela sociologia, consolida na psicologia e psicanálise com atuação no magistério. Acha que foram todas ou qual delas mais o influenciou para a atividade literária?
Adriano: Sem dúvidas foi a Sociologia, principalmente os autores pós-estruturalistas, por sua forma de ver o mundo, por seu tipo de escrita mais livre e por sua ênfase no discurso. Há em mim uma tendência demolidora. É preciso desconstruir o mundo para entendê-lo e, de maneira molecular, mudá-lo.
ALCR: Alguma ideia para essa mudança?

ALCR: No que você escreve, há uma preferência pelo conto, pela narrativa contextualizada em observações de um ser solitário. É essa forma de escrita a que mais lhe cativa?

ALCR: Percebe-se em seus textos um universo de questionamentos existencialistas que ora tendem ao desencanto, ora à esperança por um mundo melhor. Seria uma maneira de levar o leitor a maiores reflexões sobre o sentido da vida?

ALCR: Em sua atividade como professor existem registros de preocupação com a dificuldade que os estudantes têm para escrever, em grande parte devida à deficiência do ensino básico. O que tem mais contribuído para isso nos dias atuais?
Se uma teoria fosse capaz de modificar a orientação sexual de alguém, não haveria nada além da heterossexualidadeAdriano: Esta área é um caos. Depois destas redes sociais, a escrita é tuiteira, ou seja, no máximo 280 caracteres. É uma lástima, um vírus que contaminou toda uma geração. Não se trata de iletramento, pois a maioria dos estudantes teve acesso a boas escolas. É uma recusa mesmo ao intelectualismo, à visão cibernética da vida. "Para que estudar se tem tudo no Google?" foi uma frase que eu já ouvi e que me fez parar para repensar minha metodologia.
ALCR: Acha que essa recusa se deve à tecnologia?
Não. Não tem nada a ver com a tecnologia, pois esta é uma ferramenta a mais para o leitor. Veja o exemplo do portal carlosromero.com.br. A questão é que não há mais, nas escolas de ensino fundamental, um incentivo à leitura. E não vamos culpar só os estudantes. Os professores também não se interessam mais por leituras. Tudo começou com a famigerada invenção das apostilas, passando pela decoreba dos concursos. Um analfabeto funcional que saiba decorar leis, regras, contas, passa tranquilo num concurso. Redigir, passa longe.
ALCR: Como interpreta a atual tendência dos espaços literários em direção ao mundo virtual e à extinção das publicações impressas? Considera uma tendência inexorável?

ALCR: Como defensor do respeito à diversidade no campo afetivo, como tem lidado com a teoria de gênero perante a ala mais conservadora do meio acadêmico?

ALCR: Para usar uma expressão muito em voga, qual o livro que melhor o representa?
Adriano: Sem sombra de dúvidas, O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Uma lição de romance histórico, policial, hermético, teológico, histórico e científico. Agradeço muito ter lido esta obra nesta existência.