Quando tudo parece escuro, a Arte traz o acalanto que precisamos para enxergar o amanhecer, mesmo que demore a chegar.
Nesses dias quando a escuridão das mentes que nos governam e a pandemia que constrói noites escuras, a Arte se junta à nossa fé como antídoto para aliviar a dor que nos sucumbe, e fatalmente deixará rastro de espinhos nos corações.
No silêncio imposto pela pandemia e a incerteza nas mãos que assinam nossos destinos, a Arte cria na alma o ambiente de sossego. Uma estrela que olhamos nessa noite escura, para compreender o caminho a seguir quando o dia amanhecer.
A arte de Flávio Tavares é uma das que ajuda a conquistar esse alívio. Movido pela insegurança que nos consome, ele está pintando quadros que são o alimento para nossa alma, muito necessitada de paz. A paz e a fé que transcendem nosso conhecimento, nos alimentando e nos conservando vivos. Seus mais recentes trabalhos reconstroem em nós a esperança de que nem tudo está perdido.
A suavidade dos quadros produzidos durante essa temporada de desesperança, como na concepção de um poema, traz a linguagem refinada que transforma a aflição da alma em serenidade. Sua pintura nos traz emoção justamente quando precisamos de um elixir para aliviar a dor.
Lembro-me do que falou o escritor francês André Malraux: “o mundo da arte não é o da imortalidade, é o da metamorfose”. Nessa transformação a pintura de Flávio transpassa os limites da subjetividade para pousar no patamar da sublimação do que vivemos.
Quando necessário, ele desenha para expor suas inquietações quanto aos desmantelos na vida política do país, ou pintando santos e anjos com a mesma perfeição, como que exaltando o Absoluto, que o presenteou com o dom para a pintura, e, agora, no linear da pandemia que povoou a terra com dores e incertezas, chega com pinturas que ajudam a abrandar a alma.
Flávio Tavares registra a memória da espécie humana com o pincel, aquilo que às vezes nem as palavras conseguem expor com exatidão. Ele retém a angústia do momento atual, que podemos dizer sentida por muitos, para eternizar o tempo em que vivemos.
Desenhar com esmero, entendo, é o caminho para aperfeiçoar a pintura. É como compor poema. Não basta sentir o movimento da alma, mas saber escolher as palavras para descrever esse momento e a imagem captada. O uso da metáfora na poesia também se reveste grandiosamente na pintura dele.
O humanismo não se consegue com a conta bancária ou o lucro incessante, mas pelo que realizamos de bom. Enquanto houver homens que se importam com a Arte, será possível mudar o mundo.
A arte salvará o mundo porque nos faz refletir a vida. Flávio tem contribuído nessa direção. Sem precisar escrever, mas pintando ou desenhando, ele passou a narrar para nós o momento atual de sua alma. A mesma dor que sentimos.
Outro artista que tem proporcionado leveza aos nossos dias com sua pintura é Alberto Lacet, que igualmente integra a lista de minha admiração. Eles serão vistos no futuro com alegria, mesmo recordando essa agonia que cobriu o mundo.
José Nunes é poeta, escritor e membro do IHGP