Já fui locutor de rádio. Ninguém imagina. Naquela época, década de 80, não havia as "lives" do mundo cibernético. Tudo era transmitido em kilohertz e megahertz, sintonizado com o minucioso giro do botão do receptor. O programa era ao vivo, na Rádio Correio. Não me lembro se em AM ou FM. Começava com uma introdução musical e um texto declamado. Em seguida, entrávamos em cena. A voz masculina se alternava com a feminina, e a música suave ao fundo criava a atmosfera adequada às mensagens.
O dueto se fazia suave, envolvendo melodias e diálogos em torno da doutrina espírita, com textos cuidadosamente redigidos e dirigidos pelo cronista Carlos Romero, quando esteve à frente do Departamento de Divulgação Doutrinária da Federação Espírita Paraibana. Ele havia dirigido o programa Paisagem Sonora na Rádio Tabajara e, como ardoroso entusiasta da música erudita, caprichava no repertório.
Assim estávamos lá, semanalmente, às duas da tarde em ponto, eu e Suely Cavalcante Dias. Um arquiteto e uma professora de química atendendo ao chamado carinhosamente imperativo do cronista-diretor, dedicado divulgador do Espiritismo em todas as formas de comunicação. Ah se já existisse internet…
O título do programa era "A Voz do Consolador", que refletia a essência de seus objetivos, tão ao gosto do entusiasmando idealizador. Afinal, não era comum uma estação de rádio local doar tempo de sua programação, principalmente a uma religião que ainda hoje se depara com preconceitos dos que não a conhecem com alguma profundidade.
O programa teve fim depois de alguns anos no ar… Mas a atuação de Suely na prática e divulgação do Espiritismo, não. Esse trabalho se perpetua até hoje, cada vez mais estudado e atualizado. Quem já foi, ou ouviu falar do Núcleo Espírita André Luiz, bem instalado no bairro do Bessa, sabe do que se trata. Uma instituição sem fins lucrativos, que nem doação aceita, onde uma equipe afinada se dedica espontaneamente à caridade do ensinamento cristão, à luz da doutrina codificada por Kardec. São palestras, reuniões mediúnicas, passes, fluidificação de água, atendimento fraterno, presencial e à distância, e muitas leituras com base na ciência, na pesquisa e na literatura especializada. Não seria diferente em se tratando de um núcleo dirigido por uma Mestra em Química, com décadas de magistério exercido no ambiente acadêmico.
O NEAL tornou-se referência de seriedade no meio espírita e não espírita. Não há restrições na abrangência de seus serviços de assistência espiritual e caridade cristã, abertos a qualquer pessoa que necessite do amparo solidário, do esclarecimento e da evangelização sem dogmas. As palestras são públicas, entremeadas de preces, seguidas de sessões de passes e muito amor.
Suely é a regente desta afinada sinfonia, sempre entoada com os elevados princípios que norteiam e contribuem para a evolução do ser humano sob os benefícios da fé. Da fé que “só é inabalável quando é capaz de encarar a razão face a face”.
Ela não se acomodou com a aposentadoria, embora merecida. A sua consciência não repousaria na paz da ociosidade até porque desde jovem suas escolhas se dirigiram ao bem do próximo, de cuja conduta nunca se distanciou. Pelo contrário, ao encerrar suas atividades de professora de química encontrou muito mais tempo para ensinar o Espiritismo.
A propósito, na atual pandemia o NEAL não se afastou de seus trabalhos. Pelo contrário, em razão da delicadeza emocional em que se encontra grande parte da humanidade, as maneiras de ajudar se intensificaram, multiplicando-se nas práticas mediúnicas de auxílio à distância, além de aulas e palestras “on-line”.
Agindo em planos paralelos e sincronizados, as equipes de espíritos encarnados, atuais integrantes da instituição, empenham-se em perfeita sintonia, canalizando a ajuda das entidades de luz que orbitam em torno do projeto NEAL. Tratamentos eficazes são dirigidos aos irmãos mais vulneráveis às influências do sensível momento que ora nos aflige. Não somente àqueles suscetíveis às emoções como também aos que possuem sensibilidade mediúnica, muitas vezes acentuada em virtude do dom do magnetismo de que são portadores. As atribuições dos espíritos que intermedeiam vibrações eletromagnéticas incluem os passes, as terapias para saúde do corpo e do psiquismo, inspiração de paz, harmonização familiar. Há também os espíritos considerados como “doadores de fluidos”, e pessoas com algum grau de mediunidade chegam a sentir a testa apalpada suavemente durante o tratamento. Assim prosseguem na tarefa de doação espontânea e solidária.
Mediante o testemunho daqueles que se submetem com fé à terapia fluídica, sabemos do confortante êxito obtido por esta via de beneficiamento mútuo. Para não dizer triplo, já que envolve o plano espiritual, o mundo encarnado e os merecedores da sintonia intercedida pelos mentores empenhados na sublime e admirável missão.
É conhecida a eficácia limitada da medicina tradicional para tratar nuances de saúde da alma. Fluidos magnéticos presentes na abundante energia do Universo são como os bálsamos e emolientes que pertencem à flora natural. Estão à disposição de quem sabe identificá-los, filtrá-los e canalizá-los para a merecida cura e afinidades em torno do bem, do amor, da gratidão e da fraternidade. O melhor caminho para a evolução do ser.
Germano Romero é arquiteto e bacharel em música