Mal chegamos a Londres, saímos à rua. Devidamente encasacados, cruzamos uma praça – a Russell Square - e entramos numa rua estreita, a Montague Street, onde nos iluminamos com o que vimos: todos os postes – de ferro – ostentavam, cada um, dois cestões suspensos, cheios de flores miúdas e de um colorido muito vivo, as mesmas que enchiam todas as jardineiras e grades dos hotéis e bistrôs de terracinhos georgeanos (do século XIX), como num cenário de conto de fadas. Londres é quase toda um jardim. A guia do City Tour, no dia seguinte, disse-nos: - "A Prefeitura cuida de florir os lamp-posts da cidade".
E há uma infinidade de empresas que mantêm as fachadas de casas, lojas, bancos e bares floridas o ano todo, inclusive no inverno, quando as espécies são substituídas por outras, resistentes ao frio.
Em outro deslumbramento, um professor universitário voltou todo um quarteirão para mostrar-nos como cortar caminho para o endereço que procurávamos. Uma jovem – típica inglesa pele de porcelana, olhos intensamente azuis – aproximou-se quando viu que um senhor não sabia dizer-nos onde ficava a catedral de São Paulo.
E uma senhora e sua filha ofereceram-se, sorridentes, para fotografar-me com Ione diante do teatro Globe, onde Shakespeare apresentava suas obras-primas no século XVII. Doutra feita, perdendo-nos apesar do mapa, eu - desculpando-me pelo péssimo inglês - perguntei a um gentleman - que estava para cruzar a rua com duas crianças, onde ficava o British Museum. Ele não me entendeu e caprichei:
- De Brítiche Miuseum. Não me compreendeu. Mostrei-lhe o nome impresso.
- Ôh – ele disse – The British Museum! – mas isso numa pronúncia tão arrevesada e incompreensível que eu disse “Uau” e pedi que me repetisse a dose. Ele fez isso, sentiu a própria extravagância e deu uma grande gargalhada. Do mesmo modo, aquecidos por tantas caminhadas, vimos, nos maravilhosos jardins posteriores do palácio de Buckingham, a vendedora de sorvetes mostrar-nos várias opções do produto que vendia, culminando por ler uma versão tão irreconhecível, para mim, de strawberry, morango, que a imitei, sorrindo. Poucas vezes fiz alguém rir tanto...
W. J. Solha é dramaturgo, artista plástico e poeta