Algumas vezes a revisão do jornal se arrastava até a madrugada. Fosse por algum ato de última hora ou pela onda de oposição que começava a abalar a cabeça e os porões do Catete. “Mar de lama”, no discurso de Afonso Arinos, com maremoto no atentado a Lacerda. Na Paraíba mesmo ecoou forte o anátema saído do discurso de um dos nossos senadores, Argemiro de Figueiredo: “É preciso matar este governo para que sobreviva a nação”. O imã dos acontecimentos neutralizava a cantilena dos revisores em cima da prova tipográfica. Dois revisores para cada texto, um escandindo a leitura e o outro correndo os olhos no texto.

Os que vieram na sequência de Carlos Dias Fernandes no jornal A União foram acumulando, no tempo, essas medalhas e florões, ainda que o café com pão da noite apetecesse melhor sem o agrado da manteiga.

A varanda estava ali, enquadrando os palácios, o convento, a estátua monumental e aquele meu sonho, que se fez descer com a tarde crepuscular- Tem aspirações? – perguntou-me maneiroso, a mão ocultando o queixo e a boca, dissimulando a indulgente ironia do riso e do olhar. Não lembro mais o que respondi. Certamente nada, ao me ver abordado pelo homem a quem toda a redação rendia homenagens. Principalmente o diretor, Juarez Batista, o mais desenvolto e brilhante deles.

A varanda estava ali, enquadrando os palácios, o convento, a estátua monumental e aquele meu sonho, que se fez descer com a tarde crepuscular. Chamei Mororó, desenhei-lhe a ideia da imagem, e o baixote da minha predileção fixou tudo aquilo numa fotografia que Barreto Neto adorava. Mais novo, Barreto era desse tempo. Colocou-a depois em seu gabinete de diretor-técnico, num recurso para preservar a imagem helênica do prédio antigo, onde ele também começara. E terminou tudo se indo, o ângulo neoclássico, o prédio inteiro, Seu Wilson, o fotógrafo, Barreto, muita gente... E fiquemos por aqui, que o tempo não está para essas conversas.
Gonzaga Rodrigues é escritor e membro da APL