
A Sérgio Faraco
carcereira,
abre a lingueta
da garganta
e aperta-me o cerco:
o canto
que a liberta
dos ferros
me faz prisioneiro.
nunca mais ouvi a araponga.
o seu canto de ferro
deve ter enferrujado.
canto que cantava
as suas penas.
canto que me fez um apenado.

fez jus ao nome.
desculpem, pois,
a sua ausência:
ainda está a caminho do poema.

eriçado, plugas
em mil
tomadas
os pelos desencapados.
em repouso,
aninhas
os fios negros
e ronronas enrodilhado.

A Heloísa Arcoverde de Moraes
tigrrrre, ruges
a tua fúria
dentro do nome?
a van gogh
serviu
de modelo
o mural do teu corpo?
com pintas negras
e amarelo-ouro,
a tua textura
é um trigal com corvos?

tudo é uma questão
de peso e medida:
o tamanduá é feliz
com a boca cheia de formiga.

o grilo
põe-se
a trilar
qual uma cigarra do lar

cheia de si
a sina
da cigarra
é explodir
Sérgio de Castro Pinto é doutor em literatura, professor e poeta