Após a reforma no calendário romano, realizada por Júlio César, com a ajuda do astrônomo grego Sosígenes, em 46 a. C., o mês de fevereiro, a cada 4 anos, passou a ter 29 dias, de modo a completar com perfeição a órbita da terra ao redor do sol (na época pensava-se o contrário, óbvio). No entanto, mesmo depois do calendário juliano e enquanto permaneceu a contagem tradicional dos dias pelos romanos, nunca existiu o dia 29 de fevereiro.

Por exemplo, o dia 30 de maio, era dito Tertius Dies ante Kalendas Junias, o Terceiro Dia antes das Calendas de Junho, utilizando-se no cálculo a soma dos dias 1º de junho, 31 e 30 de maio. O dia seguinte, dia 31, dizia-se Pridie Kalendas Junias, o Dia anterior às Calendas de Junho.
Como marcar, então, o dia 29 de fevereiro, se ele não existia como data? Simples. Contava-se o dia 24 duas vezes. O primeiro dos dois dias 24 de fevereiro, no calendário romano, era o Bis Sextus Dies ante Kalendas Martias, ou seja, o Sexto Dia de novo (bissexto) antes das Calendas de Março, o dia primeiro de março. O segundo dia 24, para nós, em ano bissexto, o dia 25 de fevereiro, era o Sextus Dies ante Kalendas Martias, o Sexto Dia antes das Kalendas de Março. Lembrem-se que a contagem era de trás para frente: 1º de março, 28, 27, 26, 25 e 24 de fevereiro somavam seis dias, incluindo o dia das Calendas, 1º de março, e o dia em que se estava, dia 24 de fevereiro.
Como se vê, no calendário juliano, não era o ano que se dizia bissexto, mas o dia 24 de fevereiro, a cada 4 anos, que se chamava bissexto.

A título de conclusão, digamos que no dia 23 de fevereiro, comemoravam-se as Terminalia (assim mesmo, parecendo um singular, mas se trata de um plural neutro), festa em homenagem ao deus Terminus, divindade que presidia os limites e os cultos da pedra de fundação do mundo, marcando o fim do ano litúrgico romano e já preparando, a partir do dia 27 desse mesmo mês, com as Equirria, a festa de Marte, deus que tutelava o mês de março. Era o antigo início do ano novo, anterior ao calendário juliano. Após o calendário estabelecido por César, a festividade das Equirria continuou, pois marcava o surgimento de um novo ano, por causa do novo sol que trazia a renovação do ciclo da natureza e da vida, com o Equinócio da Primavera. Era o início do ano solar, a partir do dia 20 de março.
Milton Marques Júnior é doutor em letras, professor, escritor e membro da APL