Adler, o meu amigo e cunhado, foi um menino grande. Um grande menino. Gostava de frequentar mais os ambientes públicos do que os espaços asfixiantes das casas. Daí o seu jeito flâner, a predileção pelos feriados nacionais, pelas festas das padroeiras, a exemplo das de Nossas Senhoras das Neves e da Luz, sobretudo esta última, guarabirense de boa cepa que ele o foi.
Suas palavras ressuscitavam os mortos, que readquiriam os movimentos, as cores, para encenarem o papel que lhes fora reservado cumprirEstou a ver a sua pele queimada pelo sol, tão sob o céu ele andava, tão sentindo o céu ele andava, ao passo em que a alma das ruas o abastecia da convivência com a gente humilde, simples, igual a ele, versão de um São Francisco de Assis da classe média.
Já sexagenário, se submeteu ao vestibular do Curso de História da UEPB, conquistando o 1º lugar. Pena que tenha abandonado o curso, decepcionado, quem sabe, com o foco excessivo da história oficial na vida dos reis, rainhas, nobres, clero.


Baixa, mansa, rouca, a sua voz adquiria contornos de quem estava constantemente conspirando. Mas, o que parecia conspiração, revelava apenas uma grande timidez. Tanto que usava o guarda-chuva mais para ocupar as mãos – que, quase sempre, não sabia onde botá-las – do que para se abrigar da chuva ou do sol. O meu amigo Adler Soares Pimentel sabia se defender das intempéries do mundo, tinha a sua própria e particular meteorologia. O céu era e foi o seu grande guarda-chuva, o céu em que ele agora entra sem pedir licença a São Pedro.
Sérgio de Castro Pinto é doutor em literatura, professor e poeta