Dizem que na prisão vê-se o Sol nascer quadrado… Decerto porque nas atuais cadeias as janelas têm tal forma. Nas de antigamente, talvez houvesse algumas redondas, como as náuticas, amoldadas ao Sol, ou sequer existissem. Mas a uma janela não importa geometria de contornos. Elas bastam por si só.

Janelas para dentro. Infinitas. Janelas para o passado, para as boas lembranças... Evitemos as ruins, sofrimento não deve ter janela. A mente é um perigo. Não vale a pena abrir-lhe brecha alguma para a dor. Por ela não entra luz.
Das janelas das lembranças muitas outras hão de vir. E através delas tanta coisa boa pode entrar. O perdão, a compreensão, a tolerância. A reflexão que nos leva a aprender, entre erros e acertos, o caminho pra ser feliz. Quem pode imaginar a felicidade em meio a mágoas e ressentimentos? Mergulhado em memórias doloridas que insistem em voltar por um tipo de janelas que nunca devem ser abertas, e sim fechadas, lacradas, se possível demolidas.
Há ainda as janelas que se abrem na leitura. Sucessivas, se multiplicam a cada página, a cada reconstrução do imaginário moldado à emoção criada e recriada à cena literária.
E as janelas para a música, meu Deus!? Essa são abertas até mesmo aos que a vida desproveu da luz do olhar. São como as do olfato, do tato, do sabor, todas elas abrem brechas, paisagens da memória, do espírito, da existência…

Bem-vindas as janelas! Que se abram nas paredes, nas lembranças, no porvir de infindáveis esperançasJanelas para o mundo, para os mundos e galáxias, que sem vê-las de verdade chegam nítidas à ciência. Janelas ao mundo microscópico, de onde veio tão pequena dimensão e imensa virulência. Janelas para o infinito, dos dois mundos, micro e macro, que se encontram nos limites que de fato inexistem. E é nesse limiar que o Universo faz a curva, que une início e fim, referências pueris de um tempo que é eterno, desde que se imaginou existir algum começo.
Bem-vindas as janelas, todas elas! Que se abram nas paredes, nas lembranças, no porvir de infindáveis esperanças. Pois a Fé é que nos lembra de que tudo é passageiro, que o que vem também se finda, como toda essa luz que emana das estrelas, nascida e já morrida pelas bênçãos do Divino
Germano Romero é arquiteto e bacharel em música