Na semana passada, o meio intelectual paraibano foi surpreendido com uma grata revelação. Não uma revelação de um talento literário já cons...

Com a beleza da emoção

germano romero ambiente de leitura carlos romero

Na semana passada, o meio intelectual paraibano foi surpreendido com uma grata revelação. Não uma revelação de um talento literário já consagrado, coisa que ninguém discute, mas de uma novidade, porque tornava público um lado desconhecido: – A poesia de Ângela Bezerra de Castro!

É de notório conhecimento que nada mais restaria realizar em sua trajetória de vida, se a cortejada professora não mantivesse a imaginação e o entusiasmo pelas Letras em permanente combustão. Projetos de novos livros, ensaios, críticas, prefácios, afora os afazeres de casa - pois disso sempre cuidou muito bem, inclusive da boa culinária inspirada nos sabores do brejo – são chamas acesas no seu dia-a-dia.

Uma decepção supostamente relacionada com a possibilidade de que o espaço que guardava no coração de seu amado haja sido preenchido
Mas da poesia poucos sabiam e sequer conheciam, exceto um ou dois poemas. Talvez por ter brotado de sentimentos e emoções decantadas na intimidade pessoal, o que agora veio à tona tivesse sido guardado pelo tempo que o carinho precisou. E tal como uma semente, como esses grãos de trigo que são capazes de germinar após 200 anos guardados, bastando encontrar terra fértil, os poemas de Ângela foram publicados no Ambiente de Leitura Carlos Romero (carlosromero.com.br). Não temos dúvida de que o patrono, seu amigo e confrade, ficou muito feliz em ver que o espaço literário que o homenageia foi o adubo que fez florescer em busca da luz tão especiais brotos de amor e poesia.

E que poesia! Estão todas em: carlosromero.com.br/2020/05/marcas.html

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Ângela começa confessando que seu olhar, renascido de outro, foi-se embora no amor que perdeu de vista. Sem desmerecer o que ficou, sabe que inevitavelmente haverá de contemplar o afeto remanescido nas coisas que alcança, mesmo ciente de que o outro partiu.

Em seguida, se refere à sintonia de saberes, que se completava à do olhar e ao sabor do beijo murmurado, e restam emocionados na distante recordação. Aí se revela o amor integral. Aquele que une corpo, alma, saber e sabor. Que ao se separar, rompeu-se desgarrando-se com uma porção jamais recuperada. E sem esconder a inexorável realidade da desesperança, ela define a “mutilação” como eterna, “para sempre”.

No segundo poema – Verso / Reverso, Ângela deixa escapar à imaginação do leitor as marcas de uma decepção supostamente relacionada com a possibilidade de que o espaço que guardava no coração de seu amado haja sido preenchido. A forma e justaposição rítmica usada pela autora, enriquece as várias facetas daquele sentimento, dando asas ao imaginário e elastecendo as possibilidades do implícito. Garras de uma “velha”, por exemplo, até parece significar a experiência da sabedoria vivida para domar a dor em seu peito. Sabe-se lá o que quer dizer, em verdade, os poetas...

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Paradoxalmente, subtende-se no poema seguinte que por mais dolorosas, parece inevitável que as marcas emerjam e a façam sofrer, ainda que docemente. As lembranças são incontroláveis porque não cansam, fazendo-a ciente de que, mesmo sofridas, prefere encontrá-las na perda.

No último verso, há o desfecho que resta na companhia das ausências, na inexpressividade do que lhe sobrou, no silêncio que se abraça implacavelmente à solidão. Nua, crua, mas com a beleza da emoção. Emoção que se revelou brilhante em sua poesia.


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

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