A trajetória de estudante é algo inesquecível. Mais que as lições escritas pelos mestres nos quadros negros (ou lousas), ou ditadas para testar a habilidade auditiva e de concentração dos jovens, o ambiente escolar na infância/adolescência fica indelével na memória. Às vezes embaçado, outras com nitidez assustadora. Em todas, uma saborosa saudade.
A cada banco escolar, um lugar sagrado. Recordações, afagos atemporais, viagens no tempo, sons, cheiros, jeitos, quem éramos e ainda somos. Como diria Rousseau: "A juventude é a época de se estudar a sabedoria; a velhice é a época de a praticar".
Época das "Diretas Já!", foi na escola que achei no chão o panfleto convocatório com faixas verde e amarela para o comício da Lagoa com Tancredo Neves e companhiaE lá se vão bons anos quando o tímido garoto embarcava no mundo desconhecido do conhecimento. Externato Santa Dorotéia, Conjunto no Castelo Branco, João Pessoa. Farda tradicional, branco e vinho, camisa com bolso e iniciais do colégio. Uma breve passagem no colégio católico de freiras. E eis que desembaraço da caixinha craniana o pavão que desfilava sua beleza imponente e onipresente naquele lugar, as irmãs com seus hábitos em caminhadas pausadas pelo longo corredor na hora do recreio, e a compreensível e atenta professora, a irmã Assis.
Ah! Mudança de bairro, outra escola, novo mundo. Confesso que fui conquistado pela "bagunça" do intervalo da Escola Estadual Capitulina Sátyro, no Conjunto João Agripino. Era a sensação de liberdade na correria, mesmo "atropelado" por uma aluna de série mais avançada. Colisão tipo fusquinha e jamanta que me fez ir ao chão. Nocaute técnico e de vergonha. Sobrevivi para carimbar mais uma escola no currículo.
Desembarco na Escola Estadual José Vieira Diniz, no Expedicionários, quando o Espaço Cultural José Lins do Rego era um imenso, desculpem a repetição, um imenso espaço, só que vazio. Lugar dos primeiros platônicos amores, as brincadeiras de polícia/ladrão, a primeira ida para a diretoria justamente por conta das brincadeiras mais "violentas".

Não reclamo. Digamos que, por linhas tortas (linhas de escritas, não retas matemáticas), foram dois anos ganhos. Época das "Diretas Já!", foi na escola que achei no chão o panfleto convocatório com faixas verde e amarela para o comício da Lagoa com Tancredo Neves e companhia. Adolescente ainda, fui testemunha daquela história. Era tempo de respirar liberdades.
E eis o Lyceu Paraibano. Sim, não discuto se a grafia está correta. Sempre preferi a escrita com "Y" e, sim, sei que na fachada do colégio o nome está grafado com "I". Não importa, é uma teimosia afetiva que me dou o direito. Lyceu de prédio exuberante e forte, paredes erguidas para resistir aos mais endiabrados alunos. Ah Lyceu Paraibano! Das passeatas, do vôlei, das conversas nos corredores, de novos amores e da primeira aula gazeada, eu confesso.
Cinco escolas, cinco histórias. Passei? Fui aprovado? Mesmo com a relação tempestuosa com os números, escorregadelas em outras áreas do saber, reservo-me uma nota suficiente para avançar. Nada do famoso "CDF", tampouco medíocre, diria eu, fui um aluno esforçado.
No vestibular, claro, tratei de fugir das ciências exatas e dos números. Entre vencer a timidez e encarar qualquer sopa de letras a enfrentar os números, apostei no primeiro desafio. O desembarque na Universidade Federal da Paraíba foi para cursar Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo. Digamos que deu certo. Mas, como dizia o "Coração Selvagem" de Belchior, aí, "sim, já é outra viagem".
Clóvis Roberto é jornalista e cronista