Muito criança, ficava encantado quando via um senhor tocar um instrumento, num bar de Alagoa Grande, minha terra natal. Eram momentos de de...

Amado Mestre


Muito criança, ficava encantado quando via um senhor tocar um instrumento, num bar de Alagoa Grande, minha terra natal. Eram momentos de deleite que ainda hoje ressoam no meu peito. Muito tímido perguntei a um conhecido o nome “daquilo” e obtive como resposta: - É um Clarinete!

Ao emigrar para João Pessoa, muito novo, procurei estudar Música. Sempre tive um fascínio pelos músicos. Lembro que em cidades do interior são denominados “santos musgueiros” os que tocam em procissões e solenidades sacras.

Tendo me matriculando no Conservatório Antenor Navarro, na época na rua Duque de Caxias, não consegui concluir nem a “Percepção Musical”. Embora adolescente, tinha uma responsabilidade grande. Era arrimo de família e tinha que estudar e trabalhar num jornal. Não havia como conciliar Música, trabalho e estudo, pois no Jornalismo só temos a hora de entrada no expediente, haja vista que notícia não estabelece tempo para acontecer.

joao leite clarinete
Prof. João Leite
Ao me aposentar, decidi estudar Música. Tenho a felicidade de encontrar o Professor João Leite, conceituado docente da Universidade Federal da Paraíba, Primeiro Clarinetista da Orquestra Sinfônica da UFPB e da Orquestra Sinfônica do Estado. Cerimonioso, falo com ele e o mesmo me aceita como aluno.

Sem saber absolutamente nada de Música, a cabeça dá nó quando João Leite tenta me explicar “Círculo das Quintas”, “Harmonia”, “Enarmonia”, “Acordes”, “Métrica”, “Compasso”, “Ritmo” e outros pontos. Para não expor tanto a minha obtusidade, faço semelhante ao personagem Armando Volta – da Escolinha do Professor Raimundo – e passo a chama-lo “Amado Mestre”!

João, o Amado Mestre, tem uma virtude rara. É paciente e dá aula rindo. Na sua presença os exercícios de percepção, mecanismo, embocadura e agilidade parecem coisa simples. Quando chego em casa o “desgraçado” do Clarinete apita e não dá a nota certa. Sem paciência, dá-me vontade de metê-lo no chão. Por outro lado, até a gatinha Samantha e o gatinho Boy saem de perto quando tento fazer os exercícios. Pagamos muito mico estudando música!

Por prerrogativa profissional fui obrigado a fazer um novo curso de atualização, desta vez na Espanha. A primeira coisa que faço é abandonar o “bichinho” do Clarinete.

Nessa involuntária quarentena ligo para o Amado Mestre. Batemos aquele papo gostoso. Lá pelas tantas digo que não está “saindo nada” no instrumento. Incisivo João Leite pergunta-me: - Você tem pego no Clarinete, Josinaldo?

Respondo-lhe:

Tenho, Amado Mestre! Olhe, pego, limpo, lustro, passo a flanela e o guardo de volta.


Josinaldo Malaquias é jornalista, advogado e doutor em sociologia

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  1. Amei o texto, josinaldo. Como sempre muiyo atencioso com João. Abraços fraternos.

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