O relacionamento humano saudável não pode prescindir da reciprocidade. O conceito de que a convivência entre as pessoas deve ser pautada num espírito de solidariedade é de enorme valor para a harmonia social. Estamos sempre na dependência uns dos outros, e essa compreensão faz com que devamos estar permanentemente dispostos a retribuir os favores que recebemos.
É dando que se recebe. Não no sentido pejorativo das práticas corruptas com que muitos políticos empregam essa máxima, mas no entendimento de que ao nos doarmos estaremos prontos para receber em reciprocidade iguais manifestações de oferta. A mutualidade, no entanto, não pode ser impositiva, cobrada, ela tem que ser exercitada espontaneamente, na revelação de agradecimento sincero e retribuição merecida.
No amor e na amizade as atitudes de reciprocidade funcionam como energia fortalecedora desses sentimentos. Não existem amigos que desconsiderem a necessidade de estarem repetidamente retribuindo atenção, afeto e cuidado. Como também não pode se consolidar uma relação amorosa se não houver, da parte dos dois, a troca de carinhos, afagos, ternura. A reciprocidade acende as chamas do amor e da amizade. Quando em falta poderemos dizer que se trata de um amor não correspondido.
Há um ditado popular, que tem um significado simbólico muito forte, no que diz respeito à noção de que devemos nos ajudar uns aos outros, “uma mão lava a outra”. Em outras palavras, aplicar a reciprocidade nas relações sociais. Essa filosofia de vida nos faz, com certeza, sentirmo-nos úteis e comprometidos com o bem estar, não só nosso particularmente, mas da comunidade em que vivemos. Essa sensação de sintonia coletiva promove a felicidade. Fazer bem ao outro é fazer bem a si mesmo.
Rui Leitão é jornalista e escritor