Uma das angústias da mente curiosa adolescente é saber se um quilo de pedra pesa mais do que um de pena. Tal dúvida angustiante é esclarecida a partir do estudo dos rudimentos da Cinemática, parte da Física que estuda o movimento dos corpos.
Regredindo à condição de imberbe adolescente, angustia-me não saber o critério de demarcação entre a pena e a pedra na poesia de Ângela Bezerra de Castro que, simultaneamente, tem a contundência de uma pedra e a leveza de uma pena.
Confesso que fiquei impactado com a estreia poética de Ângela Bezerra neste portal, idealizado pelo gênio de Germano Romero, espaço que tem expressado com precisão o que melhor existe no pensamento paraibano. É por essa razão que tenho evitado comentar algum artigo sob pena de cometer injustiça com outros participantes, todos pessoas que aprendi a admirar numa longa militância no Jornalismo.
Há tempo não vejo versos que toquem ao coração num processo de recuperação dos perdidos dados da sensibilidadeQuanto à pessoa de Ângela, sempre afirmei que nada me surpreende vindo da sua parte. O seu extraordinário talento, as suas obras literárias, os seus prêmios, os seus títulos e a sua trajetória como admirada e amada professora da UFPB falam com maior precisão, de forma pública e notória.
Há tempo não vejo versos que toquem ao coração num processo de recuperação dos perdidos dados da sensibilidade, sensibilidade violada pela matrix da vida cotidiana que, em nome de uma suposta racionalidade técnica e objetiva, tem levado a pessoa humana a postergar e esquecer a própria condição humana.
Embora, em nenhum momento, a poesia Ângela transite nas esferas do senso comum, transito eu, numa licença e inexistente intimidade, dizendo que fiquei encantado com versos que me fizeram procurar sapatos de anjos para caminhar nas nuvens. É que a Cinemática é insuficiente para explicar o movimento da pedra e da pena na imensidão cósmica da inspiração das almas privilegiadas.
A poesia de Ângela é como uma sinfonia mágica que sintetiza todas as interfaces do ser humano – amor, beleza, fealdade, bondade, maldade – na na certeza de que todos os contrastes serão superados pela esperança recuperadora da sensibilidade.
Josinaldo Malaquias é jornalista, advogado e doutor em sociologia