Na tarde de um dia com chuva que nos faz recolher ao aconchego da rede preguiçosa, passeando pelos círculos sociais, percebo um texto me chamou a atenção. Não conheço a pessoa que o escreveu, mas muito gostaria de parabenizá-la pelas colocações acerca da arte, porque trouxeram salutares reflexões, como um manto a agasalhar as inquietações de minha alma.
Ela fala com poesia e discorreu de uma forma alinhada para expor assunto tão envolvente, como é a arte na construção de nossas estruturas espirituais.
Jornalista e cantora, Grabriella Grisi escreveu que a “arte sempre foi um elemento de transformação na sociedade, e também uma forma de expressão humana. O artista sempre foi aquilo que as pessoas quiseram ser/dizer/vivenciar, por isso ele é tão venerado e ao mesmo tempo linchado”.
Quando li estas palavras, meu olhar foi até a minha cidade onde, quando percorria veredas e canaviais, vinha à mente artistas anônimos que habitavam o lugar, bem familiares. Cantadores de viola, repentistas e sanfoneiros que davam sentido artístico ao nosso viver acanhado e isolado nas brenhas, numa época quando o folheto de feira era nosso principal meio de comunicação e o rádio, mais tarde, quando tio Pedro Mendes trouxe um aparelho até nós, este moderno instrumento de informar nos levou a conhecer outros mundos.
Mais uma vez é a jornalista Grabriella quem me reabastece com suas reflexões: “Ser artista não é para qualquer pessoa”, porque é uma atividade cheia de percalços. Mesmo em face da desvalorização da arte e do ser artista, como se tem visto nos últimos tempos em nosso País, ela colocou uma frase que atiçou minha reflexão, porquanto é poesia. “Nós somos as pessoas mais sensíveis que alguém pode conviver”, e acrescentou que “nossa alma é feita de pluma, e de nuvem. E os nossos sonhos são do tamanho do universo. Somos sonhadores, sensíveis e românticos”.
A arte tem os seus espinhos, assim como também tem suas pétalas extremamente delicadas, com aromas e cores diversas. A poetisa dizia que seu coração sempre pulsará pela arte e pelo fazer artístico. Os espinhos haveriam sempre de retirá-los, mesmo que eles machuquem, causem sangria, mas levam o artista a "sorrir com lágrimas no rosto”.
Esse texto de Gabriella Grisi me tocou profundamente, porque fala do poeta, ser profundamente sensível e incompreendido, na maioria das vezes.
Acrescentaria pouca coisa ao texto da autora, a não ser referendar que a arte salva vidas, transforma a alma ressequida em lago verdejante, onde a brisa fresca é uma constante.
José Nunes é poeta, escritor e membro do IHGP