Já faz tempo que o tempo me cobra
Versos que há tempos ando devendo
Faltava tempo pra engenhar tal obra
Como se tempo vivesse eu perdendo
Velho inspirador tempo que não para
É dele que o poeta espera a jóia rara
Garras que me imprimem à face cicatrizes
Nevando cabeças com alvas matizes
Operoso o tempo em sempiterna lida
Milagroso mestre em diuturnas curas
Dligente em sarar feridas das criaturas
Paciente a escutar os horrores da vida
Dias irascíveis em que animal me sinto
E esqueço pelo ódio o passado ancestral
Se a ele dou tempo afasto o vil instinto
Pois pra cada coisa há o tempo divinal
Tempos demorei pra me achar inteiro
Até concluir que meu sangue é tinteiro
Registrando tempos de dor e alegria
Tempo que meu Deus me permitiu poesia
Andei cinco quadras neste passatempo
À caça da rima pra fechar mais nobre
Pois o próprio tempo dava rima pobre
Vou pedir ao Pai que me dê mais tempo
Stelo Queiroga é engenheiro e poeta E-mail