Os propósitos acadêmicos de perpetuação das tradições literárias e de estímulo à cultura geral obrigam a pensar na escola, de um modo genérico, e de um modo mais específico na universidade, como espaços privilegiados de convivência e de interferência renovadoras. A memória cultural, a pesquisa e o ensino, integrando-se, como partes que são de um mesmo universo e de um mesmo processo.
Referendo a visão pedagógica conferindo ao papel do professor a dignidade que lhe é inerente. Dignidade historicamente reafirmada na resistência anônima que o sistema explora e finge ignorar.
Foi assim que um dia, inspirada pelos ideais de Paulo Freire, transformei jornais velhos em texto didático, ousando levar para as aulas de Português do Colégio Estadual autores paraibanos ainda não estudados: Eduardo Martins, Virgínius, Gonzaga Rodrigues, Vanildo Brito, J. J. Torres, Natanael Alves, Aurélio Albuquerque, Juarez da Gama Batista etc. Era no tempo em que o livro didático tinha distribuição escassa ou inexistente, em contraste com o esbanjamento incentivado de hoje.
Aproveitando jornais velhos, os alunos aprendiam a valorizar o aparentemente inútil; desenvolviam o hábito da leitura e da pesquisa; organizavam seus próprios livros, sem qualquer custo econômico; integravam-se à realidade pelo conhecimento do autor contemporâneo; garantiam material didático para o estudo de texto, objetivando a superação da gramatiquice dominante; enfim, participavam e comprovavam que as dificuldades podem ser vencidas.
Um dia, Luiz Augusto Crispim amanheceu escrevendo em sua crônica que "Ângela Bezerra desencantou o escritor paraibano." O cronista recuperava, na sedução da palavra mágica, essa história de mais de trinta anos. Foi o maior título que já recebi.
Ângela Bezerra de Castro é professora e crítica literária