Li e reli o texto de Gonzaga Rodrigues “Carta para um amigo”, publicado recentemente neste blog. De início, até vibrei, achando que o cronista adotara o espaço virtual criado e generosamente disponibilizado pelos Romero, Carlos e Germano. Estaria então, pensei, de alguma forma suprida a sua sentida ausência nas folhas de “A União”. Mas depois percebi que não era o momento para se comemorar, pois Gonzaga afirmava não ter se decidido a respeito. Estava ele ainda a refletir sobre isso (e tantas coisas mais), numa tentativa de se “reacomodar para esse fim de viagem, que começou pela ‘sopa’ de Mestre Chico de Alagoa Nova e não foi além das linhas da Bonfim de Severino Camelo”.
A propósito, a certa altura de seu texto Gonzaga pergunta: “Que vou fazer mais em jornal?”, e a gente sente, com um nó no peito, que a indagação é mais ampla – e mais funda. Na verdade, o cronista, do alto de suas oito décadas de estrada, parece dizer-nos, com um certo fastio: Que vou fazer mais nesta vida?, o que nos deixa quase sem palavras para responder.
Sim, porque o que podemos nós, pobres mortais da planície, dizer, em tal contexto, a alguém que já viu tudo, leu tudo, refletiu tudo, sofreu tudo, enfim, viveu tudo em oitenta anos de rica e plena existência? Seria muita audácia de nossa parte, creio eu. Se ao menos eu lhe fosse pessoalmente mais próximo, ou apenas mero companheiro das lides jornalísticas, boêmias e literárias ... Fosse um Nathanael Alves redivivo, um Marinho Moreira Franco, ou qualquer um dos raros que têm o privilégio de chamá-lo de “neguim”...
Mas não é esse o caso, pois sou simplesmente um leitor e admirador do filho de Dona Antonina, sem nenhum direito a atrevidas intimidades e a descabidos aconselhamentos. Sendo assim, respeitosamente emudeço diante do desabafo do mestre. Mas não sem antes arriscar-me a afirmar que o compreendo e respeito, face os últimos aborrecimentos que o atingiram. Mas, de qualquer modo, quem somos nós para aquilatar – e penetrar - as mágoas dos nossos semelhantes?
O que sei e o que posso asseverar é que o cronista maior (sem demérito dos demais) ainda tem muito o que fazer em jornal e na vida. Ao que sei, e graças aos deuses ou ao Deus único, sua saúde é boa, assim como sua disposição, não sendo, pois, chegada ainda a hora do recolhimento, salvo o imposto temporariamente pelo vírus.
Deixemos então Gonzaga atravessar em paz seu deserto pessoal, esse Mar Vermelho tardio e inesperado. Deixemo-lo reacomodar-se objetiva e subjetivamente perante o mundo e a vida. Sem nenhuma pressa. Pois que confiamos haver ainda muita viagem pela frente, mesmo que seja apenas em torno da aldeia ou, quem sabe, do seu quarto.
Francisco Gil Messias é ex-procurador-geral da UFPB