Para escrever texto apreciável, o autor precisa sentir e viver intensamente o tema escolhido, deixando-o numa madorna antes de colocar o ponto final. No entender de Stendhal, para se tornar escritor, “é necessário se atrever a sentir”. Sem deixar de lado este ensinamento, recorro à frase de Cervantes, quase quinhentos anos atrás, retirada do “O Amante Liberal”, ao afirmar que, “quando se sabe sentir, sabe-se dizer”.
Sentir e dizer, conhecer e escrever é o desejo que acompanha todo escritor: saber sentir e viver aquilo que escreve. Buscando superar-se e tentando suplantar cada escrito anterior, seja contando uma história ou narrando um fato do cotidiano, o escritor ou poeta, convive com emoções.
Sem emoção não se tem poesia, não se terá um texto considerável. Cervantes e outros encontram no romance a fórmula de abordar a realidade de uma época amplamente expressando o desejo da alma, por isso são autores universais.
Na Paraíba surgem muitos poetas. Não podemos negar, aqui é onde se publica e divulga poesia em larga escala. Isso é bom e nos deixa contentes. A poesia que alimenta e sacia a sede da alma.
Houve um tempo em que as expressões literárias chegavam às escolas e aos lares com maior frequência, porque nestes lugares é onde se plantam sementes que dão frutos. Se há uma avalanche de poetas e escritores na Paraíba, também temos poemas que são um ajuntamento de palavras. O poeta precisa de inspiração, da inspiração que vem com os encantos da musa, da Natureza, de um acontecimento, do que vivencia, das emoções sentidas.
Admiro o poema no qual as pessoas encontram a beleza espiritual, e se embriagam pela emoção. Cada palavra, cada verso fazendo emergir uma centelha da imagem daquilo que é possível ser observado no fundo da alma.
Sou um leitor contrito e obediente às minhas quimeras ou às alheias. Sou um poeta lento e um leitor reservado, a cada poeta que leio tento encontrar uma definição para a minha emoção, a partir do que ele, poeta, sentiu ao escrever seu texto.
Para mim, desculpem se repito alguém, mas poesia é emoção. Se o poeta consegue colocar emoção nas palavras, é um bom começo. “Um poeta vale, feiticeiramente, pelo seu poder encantatório”, assim falou com propriedade Mário Quintana.
Se a poesia consegue levar o leitor a definir a voz do vento que sopra nas árvores, ouvindo melhor as ondas do mar, então cumpriu a sua missão. Uma das missões da poesia é levar a pessoa a sentir prazer e alegria. Defendo uma poesia que expresse o sentimento de liberdade da alma e do corpo, criando uma consciência transformadora na pessoa, seja emocional, política ou social. O papel da poesia é transformar as pessoas. Assim, então, essa poesia cumpriu com sua missão de transformar o mundo a partir das mudanças que provoca na pessoa.
É essa a poesia que esperamos chegar às mãos das pessoas que, de posse dela, sejam embriagadas pela emoção. Que haja livros em todos os recantos, nas periferias das cidades, ou no mais distante rincão de terra esturricada ou encharcada.
Para Murilo Mendes, poeta que buscava as coisas silenciosas, “a poesia pode sintetizar todas as outras formas de expressão artísticas”.
Acredito no poeta atento a um acontecimento que mexa com a memória, com a criatividade, algo que atice a criação poética no leitor.
O escritor é um leão que se aventura a caçar palavras que possam expressar seu pensamento concisamente, como definia Aristóteles, segundo o qual importava que fosse uma escrita fácil de ler e de pronunciar. Do contrário, tornaria árdua a leitura do texto ou do discurso ao público. Na poesia é conceito válido.
José Nunes é escritor, membro do IHGP (João Pessoa-PB). jnunes48@hotmail.com