Gil, a estima me autoriza esta liberdade de tratamento. Gil, somente Gil. Como igualmente me assegura a sinceridade das tuas palavras. Germano Romero dispõe-se a acolher-me em sua Acta Diurna eletrônica (lembre-se que a de Júlio Cesar – o álbum - era pregada no muro de casa) e era mais de aviso do que de lírica. E eu pedi a Germano para me rever, sem frescura, depurando-me (se é possível) das fermentações tão próprias e mesmo naturais à condição do homem civilizado.
Vaidade? Que santo pôde exilar-se completamente dela? O que senti e o que sentiste quando elogiaram a nossa inteligência? Que fervor íntimo foi aquele que me elevou e te elevou com a conquista do nosso primeiro 10? Esse fervor, por mais natural, nasceu a partir de quando olhamos em redor e vimos que havíamos chamado a atenção ou o interesse dos nossos colegas de classe.
Não é um mal quando a vaidade é uma distinção. Será que São Francisco de Assis não sentia coisa parecida ao ver que as gentes que o amavam se achavam no mesmo gênero dos seus passarinhos? Jesus, em vida, conseguira muito menos. Sobrepujou-o infinitamente quando Paulo enfrentou um verdadeiro coronavírus para unir pagãos e cristãos na face da terra.
Pois bem, caríssimo Gil, depois de setenta anos ansiando por sair de mim, sinto, na verdade, que já fiz o que podia. E fui muito longe com o que me sobra do carinho desta cidade, uma cidade reservada, sem grandes expansões, sem ufanismos, até mesmo descuidada com os seus símbolos cardeais, o seu Cabo Branco, os seus tesouros urbanos e muitos dos seus heróis, como bem lembrou o companheiro Martinho Moreira Franco ao registrar a morte, na semana passada, do nosso campeão mundial, o grande Índio que não deve ter rua nem estátua em Cabedelo. Talvez eu tenha servido para lembrar essas coisas, ao mesmo tempo que ver o meu nome impresso no papel, um papel de pouca duração, peixe do dia, descartado após a leitura, mas Acta diurna sempre, mudando a cada Gutemberg, volatilizando-se, mas jamais extinta na impressora que o teu xará, o diretor do Rebate de Campina Grande instalou na vida deste teu amigo e criado, o nêgo Gonzaga.
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Sim, ia esquecendo: em Alagoa Nova existe o Bálsamo, é uma nesga de sítio, a 5 minutos da cidade, onde íamos furtar as jacas que Brunet, o achador de Pedro Américo, registrou entre os achados de minas que o imperador lhe confiara. Não fosse o corona, é para lá que eu iria.
Gonzaga Rodrigues é escritor e membro da APL