A pandemia do coronavirus tem pressionado a humanidade a entender que é hora de promover uma revolução solidária. A sociedade, em todo o mundo, tendo que fazer escolhas entre manter-se numa postura de egoísmo e ganância ou adotar condutas de colaboração recíproca, sem vinculações a limites geográficos ou diferenças de ordem social, econômica e política. A necessidade de assumir o espírito de fraternidade.
Estamos sendo intimados a perceber os sentimentos alheios, despertando valores íntimos como compaixão e piedade. Fazendo prevalecer o altruísmo, praticando gestos capazes de transformar pessoas e circunstâncias, no propósito voluntário de contribuir sem esperar algo em troca.
O presidente de El Salvador, dirigindo-se a grandes empresários do seu país, afirmou: “Vocês têm dinheiro para viver dez vidas, mas agora ao precisarem de um hospital e um respirador, de nada vai adiantar a sua conta bancária”. Este alerta define bem a situação em que todos nos encontramos. Para sobreviver necessitamos da ajuda uns dos outros. Não entender isso é tomar partido pela política da morte.
O coronavírus surgiu como uma doença dos ricos. Porém ela socializou-se alcançando todas as classes sociais, com danos maiores, obviamente, aos que vivem em condições de pobreza. Não é difícil chegar a essa conclusão. A propagação comunitária invadindo as periferias, onde o isolamento social torna-se impossível de ser respeitado. Sem falar que milhões de pessoas moram em áreas urbanas sem saneamento básico adequado. Essa população sofre um efeito mais devastador da pandemia.
Urge revaliarmos o modo de ver o mundo ao nosso redor. Solidariamente, nos envolvermos em ações que possam mitigar o sofrimento dos mais necessitados, valorizando as vidas das pessoas, sem a preocupação imediata com a perda de lucros dos que vivem de ganhos econômicos. A crise sanitária que nos amedronta vem provocando espontâneas manifestações de apoio solidário, sem esperarem a necessária intervenção dos poderes públicos.
Começo a acreditar num avanço revolucionário de consciência coletiva, capaz de subverter a lógica capitalista de concentração de riquezas e de exclusão social. As tragédias são mais eficazmente contidas quando se verificam procedimentos pautados na cooperação, no entendimento e na paz. A onda de solidariedade que estamos assistindo é, sem qualquer dúvida, a forma mais correta de combater a pandemia do coronavírus. Unidos conseguiremos vencer os medos e as incertezas do momento.
Tomara que saiamos desse quadro de grandes preocupações menos individualistas, oferecendo mais importância ao convívio social, sem discriminações, respeitando as dessemelhanças. Fortaleçamos o grau de coalizão da sociedade promovendo a revolução solidária que o mundo está a carecer.
Rui Leitão é jornalista e escritor (João Pessoa-PB). iurleitao@hotmail.com